José [nome fictício], funcionário de uma empresa do interior de São Paulo, estava há mais de 20 anos com o nome sujo no Serasa: um pequeno empréstimo que contraíra acabou virando um monstrengo de mais de R$ 30 mil.
Com um salário de R$ 2 mil, José já tinha perdido as esperanças de limpar seu nome.
Até que conheceu a Pilla.
A fintech lhe ensinou a renegociar a dívida com o banco (para um décimo do valor), e depois criou um planejamento para que ele conseguisse pagar o restante sem se endividar novamente.
Este tipo de consultoria é uma das facetas da Pilla, que trabalha junto ao RH das empresas para melhorar a saúde financeira de seus funcionários — uma vulnerabilidade ignorada por boa parte das companhias mas que tem implicações relevantes para o desempenho da equipe.
“Num chão de fábrica ou numa linha de montagem, por exemplo, é comum um colega pedir dinheiro ao outro para cobrir uma emergência, e quando o devedor não paga, o clima no local de trabalho azeda,” Henrique Soares, um dos fundadores, disse ao Brazil Journal.
O desafio da Pilla é deixar seu cliente final menos endividado, com uma reserva de emergência maior e com capacidade de investir.
Para isso, além do planejamento financeiro e gestão do orçamento, a plataforma oferece uma solução de antecipação de salário e investimentos (num modelo white label com a Warren).
A antecipação permite que um funcionário antecipe parte de seu salário (tipicamente de R$ 100 a R$ 300) a uma taxa baixa; a dívida depois é descontada da folha de pagamento.
“A antecipação ajuda a evitar que o funcionário entre numa dívida cara, como o cheque especial, para cobrir uma emergência, ou pegue emprestado com o colega,” disse Henrique. “Mas pra funcionar, ela precisa vir junto dessa parte de consultoria e planejamento, senão pode acabar piorando ainda mais a situação.”
A Pilla surgiu de uma leva de novas startups apostando na antecipação de salário no Brasil — um modelo que já ganhou tração nos EUA e na Europa com startups como a Dave, Earning e a Salary Finance, o principal benchmark da Pilla.
Mas a startup ampliou sua solução para ir além do crédito: a plataforma analisa o momento de vida do funcionário, gera um diagnóstico e apresenta um produto para cada situação.
Outra diferença: a Pilla foca em funcionários que ganham até quatro salários mínimos.
“É um público que não tem nenhuma atenção dos bancos e muito menos um assessor de investimentos, até porque tem pouca liquidez ainda,” disse Matheus Assy, o outro fundador.
Recentemente, a Pilla ajudou uma funcionária de uma indústria que todo mês entrava no cheque especial sem necessidade: o fechamento da fatura estava programada para o dia 25, mas a moça só recebia no dia 30.
“A gente só ajudou ela a mudar a data do fechamento para o dia 2, mas isso fez uma baita diferença,” disse Matheus. “Muitas vezes, são dúvidas bem básicas como essa, mas o problema é que ninguém estava olhando para eles.”
Por enquanto, a Pilla fechou parceria com o RH de sete empresas, que não têm nenhum custo para usar a plataforma. O sistema permite que as empresas acompanhem dados anonimizados sobre a situação financeira dos funcionários que já tiveram alguma interação com a plataforma, com scores por categoria — controle de gastos, endividamento e investimentos.
O plano é ter de 50 a 100 companhias e 50 mil funcionários usando a plataforma no final do ano que vem.
Para ganhar escala, a Pilla acaba de fechar uma rodada de pré-seed liderada pela Barrah/B1, de Pedro Cavalcanti Sirotsky, e que atraiu investidores-anjo como André Laport, o fundador da Vinland Capital; Andrea Pinheiro, fundadora e ex-sócia da BR Partners; e Gustavo Roxo, ex-CTO do BTG Pactual e ex-COO do ABN Amro no Brasil.
A Pilla está usando a capitalização de R$ 2,5 milhões para investir na melhoria do produto e aumentar a equipe comercial. Até recentemente, a startup vinha operando em beta para afinar a plataforma.
A concorrência é grande: startups como a Leve, que levantou US$ 1 milhão no ano passado, e a Quansa, que captou US$ 3,6 mi recentemente, têm se posicionado de forma semelhante: ajudando os RHs a melhorar a vida financeira dos funcionários com soluções como a antecipação de salário.
O maior player desse mercado ainda é a Creditas, que também opera com antecipação de salário junto ao RH das empresas. “Mas o foco deles é o meio e o topo da pirâmide, eles não estão olhando para o cliente de baixa renda,” disse Renatto Machado, o terceiro fundador.