A Rio Tinto ganhou a concessão para explorar as montanhas de Simandou, no sudeste da Guiné, há mais de 27 anos.

A ideia era executar um projeto ambicioso, que incluía a construção de duas minas de minério de ferro, uma ferrovia e um novo porto, além de dezenas de pontes e túneis. No total, o investimento ficaria na ordem de US$ 20 bilhões.

De lá para cá, no entanto, uma série de contratempos (incluindo três golpes de Estado no país africano) adiaram os planos da mineradora anglo-australiana — e a ideia nunca saiu do papel. 

Agora, parece que isso está prestes a mudar. 

O Financial Times disse hoje que a mineradora planeja iniciar ainda este ano as obras do projeto, e que já recebeu a autorização de Beijing para dar a largada. (Caso você ainda não saiba: o maior acionista da Rio Tinto é a Chinalco, uma estatal chinesa de mineração).

Segundo o FT, alguns operários já estão trabalhando na ferrovia, e a ideia é começar a construção das minas em breve. A expectativa da Rio Tinto é que o primeiro despacho de minério de ferro aconteça em 2025, com a produção atingindo sua capacidade máxima de 60 milhões de toneladas/ano em 2028. 

O BTG Pactual disse num relatório que sempre foi muito cauteloso em relação ao desenvolvimento de Simandou, dados todos os contratempos que o projeto enfrentou. Por conta disso, o banco está assumindo premissas mais conservadoras, projetando que a extração de minério comece em 2026 (com um ano de delay do previsto) e que só atinja a capacidade máxima em 2030.

O banco disse ainda que “os desafios desse projeto não devem ser subestimados,” já que a Guiné sofreu um golpe militar em 2021 e o país enfrenta uma instabilidade regulatória. 

Dado o tamanho do projeto, que é caro demais para uma mineradora bancar sozinha, ele será desenvolvido numa parceria entre a Rio Tinto, o Governo de Guiné e pelo menos sete outras empresas, incluindo cinco chinesas. 

O FT disse que a Rio Tinto vai construir uma das minas — conhecida como projeto Simfer — em parceria com um consórcio liderado pela Chinalco. 

A segunda mina — conhecida como projeto WCS — será construída pela Baowu, a maior produtora de aço do mundo, em parceria com um consórcio liderado pela Winning International Group, uma empresa de Singapura. 

Ao mesmo tempo, as empresas envolvidas vão financiar juntas a construção da ferrovia, que terá 552 quilômetros de extensão e ligará as montanhas de Simandou até o mar, onde será construído um novo porto para escoar a produção.

A Rio Tinto e o consórcio da Chinalco também terão que financiar um trecho adicional da ferrovia, de 70 quilômetros, que vai ligar sua mina com a linha principal da ferrovia. 

A estimativa é que o share da Rio Tinto no capex do projeto fique em torno de US$ 6,2 bilhões, mais do que a companhia tem investido por ano nos últimos cinco anos. 

Além dos números superlativos, o projeto de Simandou é relevante pela qualidade do minério de ferro encontrado lá. O minério que a Rio Tinto planeja extrair tem uma concentração média de aço de mais de 65%, uma das mais altas do mundo e similar ao minério de Carajás, o maior negócio da Vale. É “o caviar do minério de ferro,” disse ao FT o executivo da Rio Tinto responsável pelo projeto, Bold Baatar.

 O minério ‘high-grade’ tem se tornado ainda mais valioso nos últimos anos porque é o único que pode ser usado em processos mais sustentáveis de produção de aço — hoje a principal aposta das siderúrgicas para reduzir suas emissões.