No mercado de crédito, as dores do brasileiro são conhecidas: as taxas são altas, falta transparência, e, na maioria dos casos, tentar renegociar qualquer ponto do contrato pode ser uma experiência kafkiana.

A Pontte, uma fintech de empréstimos com garantia, está tentando fazer tudo diferente, oferecendo crédito barato, conveniência, e levando o conceito de flexibilidade a um patamar completamente novo no setor.

A tese — ainda a se provar — é de que essa flexibilidade atrairá os melhores clientes, criando um portfólio de recebíveis mais saudável no longo prazo.  
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Incubada desde outubro dentro da Mauá Capital, a gestora de Luiz Fernando Figueiredo, a Pontte trabalha apenas com um produto: o empréstimo com garantia de imóvel (ou home equity). No Brasil, o segmento ainda é pouco explorado pelos bancões, mas começa a ganhar visibilidade com fintechs como a Creditas, que está sentada numa pilha de dinheiro, e a CashMe, fundada pela Cyrela.

No coração da Pontte está um algoritmo que analisa dados sobre as garantias e o tomador, e separa os clientes em “perfis de flexibilidade de risco.” Cada perfil dá direito a alguns ajustes na parcela — já pré-aprovados — ao longo da vida do contrato.

No primeiro nível, o de risco mais alto, o cliente pode diminuir o valor de uma parcela de 10% a 30%. No segundo, a liberalidade é maior: a redução vai de 10% a 50%. No terceiro, o cliente pode até ‘pular’ um mês de pagamento. Obviamente, tudo com poucos cliques na tela.

Já na assinatura do contrato, o tomador pode personalizar outros pontos, como escolher um mês do ano para não pagar a parcela (tipicamente janeiro, quando os boletos abundam) bem como o dia em que as cobranças serão feitas.

Mas mesmo a Pontte tem seu limite: se o cliente começa a reduzir parcelas ou pular o pagamento com muita frequência o sistema vai bloquear o recurso por um determinado período.

“Queremos transformar a vida de quem toma empréstimos no Brasil numa vida boa,” Figueiredo, fundador da Mauá, disse ao Brazil Journal. “O cliente não pode pagar hoje? Tudo bem! Ajustamos o contrato, alongamos os prazos e ele paga depois. Mas não existe fórmula mágica: estamos construindo um negócio baseado na relação de garantia e empréstimo e que se sustente no longo prazo.”

Hoje, a fintech faz empréstimos de R$ 52 mil a R$ 1,5 milhão e as taxas começam em 1,09% ao mês, em linha com outros players do mercado.  

Em boa parte, a Pontte é resultado da experiência da Mauá com crédito imobiliário — a gestora já fez mais de R$ 400 milhões em operações de empréstimo a pessoas físicas nos últimos três anos.

A Mauá detém 70% do capital da fintech e o restante está nas mãos dos sócios-fundadores.

Além de contar com a experiência de Figueiredo em assuntos regulatórios e de crédito, a Pontte tem um sócio que age como seu embaixador no mundo corporativo: o ex-sócio da Loducca André Paes de Barros. PB, como é conhecido no mercado publicitário, é responsável por expansão e parcerias.

 

Quem concebeu o projeto foi Brunno Bagnariolli, o head de real estate da Mauá e hoje CEO da Pontte. Já a modelagem do produto e da plataforma foi feita por Caroline Schulz, que se juntou à empresa como COO depois de trabalhar em agências como Leo Burnett e DPZ&T.

Nos próximos meses, a Pontte vai passar a oferecer crédito com garantia de veículos e o financiamento imobiliário padrão.

Outro plano: lançar uma solução de crédito ‘white label’, que permitiria que grandes empresas paguem uma assinatura mensal para usar o sistema da Pontte e oferecer empréstimos a seus funcionários (dando uma roupagem própria à plataforma).


Por enquanto, o
funding vem apenas da Mauá. A Pontte origina os créditos em sua plataforma digital, vende para um FIDC levantado pela Mauá com investidores internacionais e depois administra a carteira, cuidando da emissão dos boletos, cobrança e retomada do bem. (Para o FIDC, uma das saídas possíveis é empacotar esses ativos num CRI e fazer uma oferta a investidores de varejo).

No processo, ela ganha em três frentes: recebe uma comissão do tomador e do fundo na originação do crédito; outra paga mediante a performance dos ativos; e uma terceira paga mensalmente pela administração da carteira.

No Brasil, o desafio da Pontte não será fácil.

O mercado brasileiro de home equity movimenta menos de R$ 200 milhões por mês e é quase 100 vezes menor que o americano. Trata-se de um mercado que nunca deslanchou, em parte pela falta de interesse dos bancões, que não veem a modalidade como um investimento atrativo, e em parte por uma barreira cultural do brasileiro.

“Uma das grandes dificuldades é convencer o cara que ele não vai perder a casa dele porque está pegando um home equity, mas que ele vai perder pouco a pouco pagando um empréstimo de 6% ao mês,” diz Bagnariolli.

Segundo ele, o modelo de crédito flexível é uma das formas de tentar romper essa desconfiança, mostrando ao tomador que ele terá poder de decidir e mudar seu contrato com facilidade.