29 de out, 2023
O Rio de Janeiro vive há décadas uma tempestade perfeita quando o assunto é segurança pública. As dificuldades institucionais envolvendo as polícias e toda a engrenagem da justiça se conectam à dinâmica do crime, que se organiza e lucra com as oportunidades que surgem.
É assim que o pesquisador Leandro Piquet Carneiro descreve o cenário da segurança no Rio de Janeiro neste segundo episódio do videocast Lado B, apresentado pelo economista Marcos Lisboa.
Doutor em economia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), Carneiro estuda as questões da segurança pública há 30 anos. Atualmente é professor da Universidade de São Paulo e coordena a Escola de Segurança Multidimensional da USP.
“Crime organizado não é política, não é sociologia, é negócio. O crime organizado surge em torno de oportunidades que são criadas,” diz Carneiro. Nos últimos dias, uma onda de violência tomou a capital fluminense decorrente de uma guerra entre milicianos e traficantes.
Lisboa e Carneiro lembram que o problema da criminalidade no Rio de Janeiro tem componentes históricos e foi se agravando ao longo do tempo.
“O Rio sempre foi diferente do resto do Brasil nesse aspecto. Nos anos 80, houve um aumento muito repentino do homicídio entre homens jovens,” diz Carneiro. “Mas não podemos esquecer que o Rio de Janeiro tinha uma estrutura do crime organizado anterior a isso, que era o jogo do bicho.”
O pesquisador lembra que os estudos sobre criminalidade no mundo apontam que, quando uma atividade criminosa se estabelece, provavelmente, haverá o desenvolvimento de outras no futuro. “No Rio, o jogo do bicho ajudou e financiou a expansão da cocaína.”
Nesta conversa, Carneiro e Lisboa comparam os melhores resultados alcançados pela polícia militar de São Paulo — o índice de mortes violentas na capital paulista é de 8,4 homicídios a cada 100 mil habitantes, bem abaixo da média nacional — e como os resultados estão relacionados à origem da corporação no estado.
Carneiro conta que a polícia militar no Estado de São Paulo foi organizada como uma “gendarmeria”, que é uma força de segurança nacional que combina funções de polícia e de força militar.
“Ela foi inspirada no modelo francês e espanhol, num modelo europeu continental, no qual há estrutura militar hierárquica, treinamento para patrulhamento ostensivo e uma cultura institucional para o exercício de um serviço à população. Esse é o modelo também da Colômbia, do Uruguai e da Argentina.”
Lisboa lembra que na área da segurança existem exemplos internacionais de combate ao crime e na estruturação da carreira policial que o Brasil poderia copiar, como iniciativas adotadas na Colômbia e em Honduras.
“Falta abertura cultural no Brasil para incorporar as experiências internacionais em várias áreas. Na segurança pública, temos uma dificuldade enorme de dialogar e reconhecer essas experiências, de transmitir isso na formação dos nossos policiais. É uma batalha sempre trazer referências, trazer boas práticas, apresentar e discutir evidências que podem ser adaptadas ao contexto brasileiro,” diz Carneiro.
Discutir temas diversos com base em pesquisas e evidências é foco do videocast Lado B, que tem tem novos episódios a cada quinzena. Marcos Lisboa recebe convidados para debater macroeconomia, ciência, gênero no mercado de trabalho, políticas públicas, urbanismo e outros assuntos que afetam o cotidiano.
Disponível também na versão podcast no site do Brazil Journal e no Spotify:
