23 de out, 2024
Em meados do século 19, o Brasil Imperial era amplamente reconhecido por sua boa reputação como pagador de dívidas, o que permitiu ao País atrair capital interno e externo a juros baixos. Mas essa credibilidade fiscal, que em economias industriais do Atlântico Norte impulsionou o setor privado e o mercado de capitais, não teve o mesmo efeito transformador no Brasil. Segundo William Summerhill, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e especialista em história econômica do Brasil, o principal obstáculo foi o controle excessivo do governo imperial sobre a economia.
“Diferentemente dos Estados Unidos, onde os estados tinham autonomia para criar e regular bancos, promovendo a competição e o crescimento, no Brasil tudo era controlado pelo governo, o que dificultou a criação de novas instituições financeiras e o desenvolvimento de um mercado financeiro privado”, afirmou neste episódio do videocast Lado B.
Doutor em História pela Universidade Stanford e autor do livro “Inglorious Revolution”, no qual explora a estabilidade macroeconômica do Brasil Imperial e suas consequências para o crescimento econômico do país, Summerhill diz ainda que o governo utilizava sua autoridade para direcionar capitais para áreas prioritárias, atuando como uma forma de repressão fiscal.
Na entrevista, Summerhill também discute os resultados de um estudo recente sobre os impactos econômicos de maiores investimentos na educação primária ao longo do século 20. Ainda em fase de conclusão, a pesquisa revela que, se o Brasil tivesse investido 1% a mais do PIB em educação desde a década de 1930, teria ocorrido um aumento da produtividade e uma redução na taxa de fecundidade, o que poderia ter elevado o PIB per capita em até 24% na década de 1980. “Era um Brasil possível, mas não aconteceu dessa maneira.”
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