A Oncoclínicas acaba de reportar um lucro líquido 3x acima do consenso — refletindo o início de uma reestruturação que vai colocar fim a ineficiências tributárias que consumiam boa parte do resultado da rede de clínicas e hospitais oncológicos.
O lucro líquido do terceiro trimestre, de R$ 57 milhões, vai mais do que compensar todo o prejuízo que a empresa havia acumulado ao longo do ano.
A Oncoclínicas já vinha sinalizando que faria essa reestruturação societária, mas os analistas esperavam que ela começasse a aparecer na DRE a partir do quarto trimestre.
“Sempre lidamos com essa deficiência histórica da companhia, que gerava uma distorção na nossa alíquota de imposto de renda,” o CFO Cristiano Camargo disse ao Brazil Journal. “Acabamos pagando uma alíquota bem alta, em torno de 80% de IR, quando deveríamos pagar os 34% padrão.”
Segundo ele, isso acontece porque a Oncoclínicas tem várias subsidiárias (que vieram das diversas aquisições) que pagam IR separadamente.
Em cima dessas subsidiárias, ela tem uma holding com despesas operacionais e financeiras que não estão associadas a nenhuma receita, o que faz com que não haja um aproveitamento eficiente dessa base de despesas dedutíveis.
Com a reestruturação, a companhia está incorporando algumas subsidiárias de forma que as receitas delas passem a ser contabilizadas pela holding. Nesse tri, a companhia já iniciou o processo de incorporação de duas dessas subsidiárias operacionais, e outras serão incorporadas ao longo dos próximos meses.
“Não precisamos subir toda a receita das subsidiárias para o nível da holding para atingirmos a eficiência tributária,” disse ele. “Só o suficiente para aproveitar toda a base de despesas.”
Os outros números do terceiro tri também vieram acima das projeções do sellside.
A receita líquida, de R$ 1,2 bilhão, veio 5% acima do consenso; o lucro bruto, de R$ 407 milhões, ficou 10% acima; e o EBITDA, de R$ 193 milhões, foi 15% superior ao esperado.
A receita cresceu 71% em comparação ao mesmo período do ano passado. Esse crescimento veio em grande parte pelas várias aquisições que a Oncoclínicas fez nos últimos 12 meses, incluindo a compra da Unity. Mas a empresa também teve um crescimento orgânico robusto, de 29%, quase dobrando o ritmo do segundo tri deste ano.
“Tivemos uma demanda muito forte de pacientes em nossas clínicas, o que levou a um ganho importante de market share,” disse o CEO Bruno Ferrari. “Além disso, houve uma aceleração forte no faturamento dos nossos cancer centers, que ainda estão na fase de ramp up.”
No trimestre, a margem bruta da Oncoclínicas ficou em 35%, 2,8 pontos percentuais acima do ano passado. Cristiano disse que a companhia está vendo uma expansão estrutural na margem bruta na medida em que os cancers centers vão amadurecendo e passam a responder por uma fatia maior da receita — eles rodam com uma margem maior que as clínicas por serem hospitais de alta complexidade.
Segundo o CFO, outra mudança relevante no resultado deste tri é que a Oncoclínicas parou de reportar o EBITDA ajustado — atendendo a uma demanda de analistas e investidores.
Até o tri passado, a Oncoclínicas reportava seu EBITDA excluindo da conta despesas relacionadas a operações recém-inauguradas; toda a operação de medicina de precisão e genômica (que tem margem negativa); e as despesas com M&A e novos negócios; além dos gastos extraordinários com covid.
No terceiro tri do ano passado, esses vários ajustes representaram 26% do EBITDA da companhia. Nesse tri, eles já caíram para 9%, o que fez a companhia parar de fazer esses ajustes e reportar o EBITDA ‘limpo’.
“No nosso setor, fazer esses ajustes é uma prática muito comum. O problema é que cada um faz o seu ajuste como quer. Acaba sendo um julgamento da administração da companhia,” disse o CFO. “Queremos passar a mensagem que já passamos dessa fase e que vamos trabalhar para acelerar ao máximo a maturação dessas operações.”