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Com o petróleo desabando lá fora — no espírito da Black Friday, o WTI caiu 10% para US$66 — a Petrobras finalmente não precisa mais reajustar a gasolina na bomba, certo?

Infelizmente, errado.

É verdade que o ‘quase crash’ do petróleo nos últimos meses — de 110 dólares/barril para abaixo de 70 — ajudou a Petrobras, que, com seus preços congelados, costumava vender com prejuízo a gasolina que importava.  Fiquem estarrecidos:  com a queda do Brent, a gasolina no Brasil agora está quase 16% mais cara do que no mercado internacional.

Mas a Petrobras, ainda assim, precisa aumentar seus preços.

O problema é que, como a estatal é uma das mais endividadas do mundo e o real está se desvalorizando, a Petrobras precisará de mais reais nos próximos meses para pagar juros da sua dívida líquida, que chega a 240 bilhões de reais, e manter seu programa de investimentos.

Oitenta por cento da dívida da Petrobras são denominados em dólar ou euro. Apenas no segundo trimestre deste ano, a Petrobras pagou entre juros e amortizações de sua dívida 7,8 bilhões de reais. Neste ano, ela deve gastar mais de 35 bilhões de reais apenas para servir sua dívida. Com o real se desvalorizando, essa conta sobe.

“O problema deixou de ser a desafagem com os preços internacionais e passou a ser o câmbio,” diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), uma consultoria do setor de energia. “A empresa está tão alavancada e com uma necessidade de investimento tão alta e já comprometida que uma mudança mais brusca no câmbio pode ser fatal para sua capacidade de honrar sua dívida em 2015.”

Os cálculos são da Goldman Sachs.

Para cada 1% de aumento no preço da gasolina, a Petrobras gera mais 1,7 bilhão de reais de caixa por ano. Mas para cada 1% que o Real se desvaloriza, ela perde 1,4 bilhão de reais em sua geração de caixa anual. Ou seja, apenas para manter sua geração de caixa estável, a Petrobras teria que enxugar gelo e aumentar a gasolina cada vez que o real escorrega.

“Ou a Petrobras aumenta mais a gasolina, ou corta investimentos, ou toma mais dinheiro emprestado no mercado, mas com essa confusão da Lava Jato e dos balanços, ninguém sabe se ela ainda tem acesso,” diz um gestor. Um agravante deste quadro: se o Brasil perder seu grau de investimento ano que vem, a Petrobras perde junto, o que aumentaria o custo de novos empréstimos e limitaria ainda mais seu acesso ao mercado de capitais.

“Ela tem que fechar logo esse balanço e ir pro mercado levantar mais dinheiro, mas o custo desse dinheiro novo já subiu agora [pós-Lava Jato],” diz outro gestor que acompanha a empresa. “Cortar investimentos é quase impossível porque a maioria dos projetos se encontra no meio do caminho. Dá pra cortar uns 5% ou 10% talvez, só.”

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