No trimestre em que a Bolsa superou os 100 mil pontos e o mercado de ofertas de ações finalmente acordou, o BTG surfou a onda e produziu um resultado acima do consenso de mercado.

A receita subiu 76% e o lucro, 55% — R$ 1 bilhão no trimestre — em relação ao segundo tri do ano passado. Depois de quase triplicarem desde o início do ano, as units do banco sobem 2,3% na B3 no meio da tarde. 

A área de sales and trading — a maior linha de negócios do banco — mais que triplicou na comparação anual e gerou R$ 886 milhões, respondendo por 41% da receita total. 

A porrada, segundo fontes, veio da tesouraria, particularmente da mesa de juros.

Com o mercado em alta, o BTG ficou mais agressivo. O VaR (Value at Risk), índice que mede o risco da carteira proprietária, subiu de 0,69% do patrimônio no primeiro tri para 0,74%.

“Tivemos boas oportunidades de alocação neste trimestre”, o CFO João Dantas disse na teleconferência com analistas. “Mas não vemos o VaR aumentando muito acima desses níveis, já estamos no pico.” 

Outra boa notícia veio da área de investimentos proprietários, que concentra a carteira de de private equity do banco. A marcação a mercado da Eneva e da PetroÁfrica fez o faturamento multiplicar mais de seis vezes em relação ao mesmo período de 2018. 

O retorno sobre o patrimônio passou de 14% no primeiro trimestre para 19% no final de junho, por conta principalmente da venda do banco suíço EFG para a holding que controla o BTG.  (A transação foi feita com os recursos captados no follow-on.) 

O EFG tinha um ROE próximo de zero e consumia muito capital regulatório — com a limpeza no balanço, o BTG fica com mais capital disponível para alocação.

Nas áreas de serviços, que não consomem capital próprio do banco e são menos voláteis, os avanços foram mais em linha com as expectativas.

No asset management, o faturamento cresceu 50% para R$ 227 milhões, e os ativos sob gestão e administração bateram R$ 226 bilhões, um terço a mais que no mesmo período do ano passado. 

Na área de wealth, a receita subiu 25%. 

No banco de investimentos, apesar da volta dos follow-ons e de um recorde na emissão de dívidas, a receita teve queda na comparação anual — mas a área ganhou dinheiro com diversas operações, sem nenhum “jumbo deal”  que poderia distorcer a comparação, notou o CFO no call, sinalizando uma sustentabilidade maior dos números. 

“A carteira de crédito está começando a acelerar, asset e wealth estão crescendo forte e acelerando num cenário de crescimento”, diz um gestor comprado no papel. “E é só o início do ciclo.” 

O BTG é visto como um dos ativos que mais se beneficia não só da melhora do ciclo econômico, mas também de um movimento mais estrutural de ‘financial deepening’, o aumento na oferta de serviços como resultado de juros mais baixos, inovação tecnológica e mudanças na regulação. 

Há ainda a opcionalidade — que mesmo os mais otimistas não colocam no preço — com o BTG Digital, mais voltado para o varejo de alta renda e que ganhou reforço com a chegada de Amos Genish ao banco.

Respondendo a uma analista do Morgan Stanley, o CEO Roberto Sallouti disse que ainda não pode dar mais detalhes sobre a estratégia digital. 

“Divulgar o número de agentes autônomos ou clientes poderia até ser positivo, mas temos medo que gere o incentivo errado de atração de clientes que não tem nosso perfil,” desconversou. “Somos resistentes a dar detalhes e, enquanto pudermos, vamos ser.” 

Com sua unit a R$ 64, o BTG vale R$ 57 bilhões na Bolsa e negocia próximo a 3 vezes seu valor patrimonial.