O cenário de curto prazo para o setor de papel e celulose não poderia ser pior: a demanda da China está fraca, os estoques estão subindo em toda a cadeia, os lucros estão em queda, e a distribuição de dividendos das empresas listadas está deixando (muito) a desejar.

Tape os ouvidos e compre as empresas do setor, diz o BTG.

“Como os investidores experientes geralmente aconselham, a estratégia é comprar ações cíclicas quando os múltiplos estão altos e vender nos períodos em que os múltiplos estão baixos, indicando o pico dos lucros,” escreveu o time do analista Leonardo Correa.

Para o BTG, há diversos sinais indicando que o pior da correção já ficou para trás e que o mercado já precificou boa parte do pessimismo. 

O banco tem a Suzano como seu ‘top pick’ e recomenda também Klabin e Irani.

“Acreditamos que exercitar a paciência vai render resultados positivos no longo prazo.”

O BTG nota que o preço da celulose negociada na China está abaixo de US$ 500/t, o que é inferior ao custo de produção marginal da indústria, que gira em torno de US$ 550-600/t. 

“Baseado em nossas estimativas, o projeto Cerrado da Suzano [um investimento de R$ 22 bilhões] teria um valor presente negativo nos preços atuais de US$ 450-480/ton, o que achamos economicamente irracional,” diz o relatório. “Não temos dúvida que uma parcela significativa da indústria global de celulose está operando com EBITDA negativo nesses preços, e com isso não há nenhum incentivo para alocar capital no setor. Claramente, algo tem que ceder nessa situação…”

No relatório, o analista cita indicadores que podem significar que o setor chegou no fundo do poço e está prestes a se recuperar.

1. As fábricas de papel chinesas estão aproveitando os preços deprimidos para importar agressivamente, recompondo seus estoques.

2. A Suzano tem dito que algumas de suas operações de mais alto custo não estão gerando retornos satisfatórios, operando com um ROE abaixo do custo de capital.

3. Os preços estão muito próximos do bottom do último ciclo de baixa do setor, em 2019, quando a celulose atingiu US$ 460/t. “Nossa análise sugere que a inflação do setor foi de 20% a 25% de lá para cá. Como o bottom poderia ser o mesmo?” pergunta o BTG.

Segundo o banco, esses sinais são só o começo, e “antecipamos que produtores marginais vão implementar uma série de cortes de oferta nas próximas semanas.”

O banco manteve o ‘buy’ para Suzano, Klabin e Irani, mas reduziu seu preço-alvo para as duas primeiras — de R$ 86 para R$ 71 e de R$ 32 para R$ 30, respectivamente. O preço-alvo da Irani é R$ 11.

Suzano negocia hoje ao redor de R$ 44; Klabin, a R$ 20,50, e Irani a R$ 8,30.

***

O Santander também reiterou hoje sua recomendação de compra para a Suzano, e também reduziu seu preço-alvo de R$ 78 para R$ 70.

O banco cita cinco motivos para comprar a ação: uma assimetria atrativa (com um valuation barato num momento em que os preços da celulose estão chegando ao bottom); um potencial upside no consenso para o EBITDA por tonelada e o fato da empresa negociar ao custo de reposição; iniciativas atrativas de crescimento; fundamentos ESG fortes; e um balanço forte que deve suportar uma combinação de crescimento e geração de caixa.

O Santander tem buy na ação desde 2021. O Itaú BBA, Morgan Stanley, Citi e XP também têm buy, enquanto Bradesco BBI e Goldman Sachs têm sell, e o JP Morgan, recomendação neutra.