Fundado nos anos 90, o Banco Paulista sempre foi conhecido por sua mesa de câmbio, que por décadas foi o principal ganha-pão da instituição.

Mas em 2019, executivos justamente da mesa de câmbio se envolveram com empresas ligadas à Lava Jato, e o banco descontinuou a atividade — buscando se reinventar com o crédito para o middle market e produtos como consignado e home equity.

Agora, Álvaro Augusto de Freitas Vidigal — o filho de um dos fundadores do banco — quer tentar um segundo ato e desenhou um plano para, segundo ele, levar a instituição para outro patamar. 

Guti, como ele é conhecido, acaba de adquirir os 97,5% que seu pai tinha no Paulista, avaliando o banco em cerca de R$ 120 milhões, próximo de seu valor patrimonial. Os 2,5% restantes fazem parte do espólio do outro fundador, Homero Amaral, que faleceu recentemente. 

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Depois da crise, o Banco Paulista passou por uma forte reestruturação, reduzindo de tamanho para ganhar eficiência e apostando todas as suas fichas no crédito. 

“Hoje, o banco está com 130 funcionários e chegando muito perto do breakeven,” Guti disse ao Brazil Journal. “O que eu vejo é que dá para incrementar muito a carteira de crédito e usar a expertise que eu tenho em FIDCs para diversificar o nosso funding, que hoje é muito dependente da distribuição de CDBs em plataformas de terceiros.”

O banco tem uma carteira de crédito de R$ 1,2 bilhão, metade dela em empréstimos para empresas do middle market (com faturamento de até R$ 1 bilhão). 

A outra metade é dividida entre home equity, que representa um terço do montante, e crédito consignado para funcionários públicos e privados, que responde pelos dois terços restantes.

A meta de Guti é quase dobrar a carteira total já no curto prazo, fechando o ano que vem com R$ 2 bilhões. No bottom line, o empresário disse que o objetivo é entregar um ROE de mais de 20%, o que daria um lucro de R$ 25 milhões. 

Guti trabalhou anos no Paulista, onde entrou com apenas 21 anos. Em 2019, no entanto, decidiu entregar os 5% que tinha da instituição e colocar mais um dinheiro na mesa para ficar dono, sozinho, da Socopa, a corretora do banco.

Rebatizada de Singulare, em pouco tempo ela se tornou uma das maiores administradoras e custodiantes de FIDCs do Brasil, com R$ 120 bilhões em ativos. No final de 2023, Guti vendeu a empresa para a QI Tech.

O valor daquela transação não se tornou público, mas a especulação no mercado é que a venda tenha saído por quase R$ 1 bilhão, considerando que a Singulare tinha um EBITDA de R$ 90 milhões e que transações desse tipo costumam sair a um múltiplo de 10x EBITDA. 

Depois da venda, o empresário fundou uma gestora de FIDCs, a GV Atacama, que já tem R$ 10,5 bilhões em ativos.

Com a compra do Banco Paulista, Guti vai colocar os dois negócios debaixo da mesma holding e pretende extrair sinergias entre eles. 

“Queremos usar a gestora como uma parceira do banco para reduzir a dependência dele do funding de CDBs em plataformas de terceiros,” disse Guti. “No FIDC, você consegue fazer uma divisão entre cota sênior e subordinada de 70/30, então com R$ 30 milhões você consegue levantar R$ 100 mi no mercado. O que mais quero preservar no Banco Paulista é a liquidez e a solidez.”

O plano de Guti é levantar fundos que invistam nos créditos consignados e de home equity originados pelo banco.

“Bancos comerciais evitam comprar cotas subordinadas porque isso distorce a Basileia. Então as subordinadas eu vou comprar na física. Mas o banco pode entrar na cota sênior, na cota mezanino, ou ser um consultor de crédito,” disse Guti. “Mas o ponto é que, com os FIDCs, mostramos que tem outros investidores interessados nos nossos produtos, que temos liquidez para o nosso crédito.”

Outra sinergia entre os negócios é nos custos, já que algumas áreas de backoffice poderão ser compartilhadas entre as duas companhias. 

A principal aposta do Banco Paulista é o mercado de consignado, que hoje é extremamente competitivo e fragmentado, com boa parte da originação vindo dos correspondentes bancários. 

“Existe um mercado bem precificado de compra e venda de carteiras no mercado, e o principal diferencial é o relacionamento pessoal com os correspondentes bancários,” disse Guti. 

“O fato de sermos um banco pequeno traz várias desvantagens, como custo de funding, acesso a funding e credibilidade, mas traz também uma vantagem importante, que é sermos mais rápidos. Como somos um banco de dono podemos decidir as coisas muito rápido, com uma simples ligação. Não precisa de um movimento mastodôntico.”