Nos últimos anos, as geladeiras da LG tinham espaço apenas nas cozinhas da classe A.
Agora, a fabricante sul-coreana está querendo mudar esse posicionamento para fazer frente às marcas da Whirlpool e à Electrolux na casa de todos os brasileiros.
O principal movimento nessa direção é uma nova fábrica de geladeiras na região metropolitana de Curitiba, que deve começar a operar no segundo tri do ano que vem.
A companhia está investindo R$ 1,5 bilhão na planta, com capacidade de produzir 350 mil refrigeradores por ano. A ideia é que praticamente todas as geladeiras vendidas pela fabricante sejam produzidas no Paraná – com exceção das linhas mais premium, que continuarão sendo importadas.
Daniel Song, o presidente da LG Electronics e CEO para a América Latina, disse que o investimento é uma das maiores apostas da gigante sul-coreana no Brasil.
“Esse aporte não é apenas uma nova planta: é um movimento estratégico. Ao nacionalizar a produção, ganhamos escala, velocidade de resposta ao varejo e aderência superior às novas regras de eficiência energética,” Song disse ao Brazil Journal.
O mercado brasileiro de refrigeradores movimenta cerca de R$ 16 bilhões/ano, com cerca de 5 milhões de unidades vendidas.
No ano passado, segundo a Eletros, o segmento de linha branca – que inclui refrigeradores, fogões e máquinas de lavar – cresceu 17%.
Com a fábrica em funcionamento, a LG pretende chegar a um market share de 10% no fim do ano que vem – mais que o dobro da fatia atual, de cerca de 4,3%.
Para tentar alcançar essa meta, a companhia já está trazendo ao mercado modelos mais baratos. Se antes a LG era conhecida por geladeiras que começavam em R$ 10 mil, agora já é possível encontrar modelos por R$ 3,5 mil.
Mas como a produção na fábrica ainda não foi começou, os produtos ainda são importados. Ou seja, a empresa vem queimando caixa para conseguir conquistar o consumidor – e conseguir barrar a ofensiva de marcas chinesas como Hisense e Midea, que estão apostando em preços mais baixos.
Ao mesmo tempo, as líderes de mercado estão tendo um 2025 mais difícil. Em seus balanços, tanto Whirlpool e Electrolux falaram sobre uma desaceleração das vendas, mas sem dar números. Os motivos: juros altos e a ofensiva das asiáticas.
A LG não se mostra preocupada com o atual momento. Roberto Barboza, o vice-presidente de vendas para a linha branca, disse que a marca sul-coreana pode ganhar espaço apostando na “democratização da inovação”.
Uma dessas inovações é a redução do consumo da energia. A geladeira mais econômica da LG consome cerca de 30 kWh por mês, o que gera um custo médio mensal de R$ 30 em São Paulo. Segundo Barboza, é a geladeira com a maior eficiência energética do mercado.
Além disso, a LG fez uma pesquisa de campo para entender os hábitos do brasileiro. As visitas incluíam questionários com os consumidores para entender onde os consumidores guardam suas bebidas e alimentos.
Resultado: a empresa criou modelos com painel externo (algo que não existe fora do Brasil) e layout interno otimizado para o gosto do brasileiro.
“O brasileiro abre a porta muitas vezes, então o freezer precisa ser maior. E há detalhes culturais: todo brasileiro quer bandeja de ovos – algo que não existe fora daqui,” disse Barboza.
Hoje a LG alterna a liderança em segmentos como TV e ar-condicionado, que são produzidos em Manaus.
Segundo o CEO, a fábrica de refrigeradores vai permitir que a empresa consiga brigar pela liderança em um futuro não tão distante.
“Hoje todas as geladeiras são importadas, o que reduz nossa rentabilidade. Com a produção local, ganhamos competitividade e podemos brigar de igual para igual com os concorrentes em preço – mas com um produto superior,” disse o executivo.
A LG pretende usar micro e nanoinfluenciadores e fazer uma grande campanha na TV aberta para levar seu novo posicionamento a públicos regionais. “Queremos falar com quem está comprando sua primeira ou segunda geladeira com o mesmo tom aspiracional que usamos nas TVs OLED,” disse Barboza.