O Mubadala Capital está liderando uma rodada de R$ 550 milhões na CERC, uma empresa de infraestrutura para o mercado que registra ativos financeiros, incluindo recebíveis de cartão de crédito, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
A Valor Capital, que já era acionista desde 2020, está acompanhando a rodada.
A transação avalia a CERC em R$ 1,6 bilhão (pre-money) e dará ao fundo soberano de Abu Dhabi cerca de 23% da companhia.
Segundo as pessoas a par do assunto, os recursos entrarão em duas tranches: a maior parte agora e o restante sujeito ao cumprimento de determinadas condições.
O processo de busca de um investidor começou há cerca de um ano, e a transação acontece num momento em que a legislação sobre o tratamento de recebíveis já se consolidou no Brasil.
A Lei 13.476 de 2017 modernizou o ambiente institucional dos créditos com garantias e obrigou o registro digital para as transações com duplicatas. Pela lei, o trabalho das registradoras foi equiparado ao dos cartórios: elas têm “fé pública” e valor perante terceiros.
O Mubadala tem sido um investidor cada vez mais ativo no Brasil, com participações nos setores de energia, infraestrutura e educação.
A CERC vai usar os recursos para se tornar um ‘one-stop shop’ de infraestrutura de mercado: além do que já faz (o registro de ativos) a CERC está pleiteando junto ao BC se tornar uma depositária e uma clearing – e eventualmente pretende se tornar um marketplace para duplicatas, recebíveis de cartão, recebíveis do agronegócio, títulos bancários e recebíveis imobiliários.
A CERC também tem projetos embrionários para dados que ajudem seus clientes na concessão de crédito para empresas, bem como produtos baseados em blockchain (por exemplo, infraestrutura para tokenização de ativos).
A empresa compete com players como a CIP, a certificadora dos bancos, a Tag, da Stone. A B3 já compete com a CERC em alguns ativos como títulos bancários e seguros, e estuda entrar em outros mercados.
Fundada há sete anos, a CERC foi a primeira registradora reconhecida pelo Banco Central e, em 2018, foi autorizada a atuar no mercado de duplicatas, cheques pré-datados e notas promissórias.
A companhia foi idealizada por dois executivos de mercado que enxergaram uma oportunidade nas deficiências estruturais do sistema de crédito: Marcelo Maziero – ex-diretor de derivativos do Itaú BBA e ex-conselheiro da Cetip – e Fernando Fontes, que trabalhou em corretoras e fundou o Banco Petra, um dos líderes em serviços fiduciários para FIDCs.
Entre os investidores que colocaram seed capital na empresa estão Fabio Barbosa, hoje CEO da Natura&Co; Marcos Lisboa, presidente do Insper; e José Bonchristiano, o fundador da Tempo Participações. A G2D – holding de investimentos em startups da GP Investimentos – tem 3,4% da CERC.
O UBS BB foi assessor exclusivo da CERC, que trabalhou com o Lefosse.
O Mattos Filho foi o assessor jurídico do Mubadala.