As ações da Minerva chegaram a subir até 6% na manhã de hoje mesmo depois de a companhia anunciar uma nova oferta de ações — um comportamento atípico, mas que tem se tornado relativamente comum neste bull market.

O follow-on deve levantar cerca de R$ 1,4 bilhão a preços atuais e é relevante: a Minerva vale R$ 6 bilhões na Bolsa.

Por volta das 15h30, os papéis tinham suavizado a alta, mas ainda avançavam 3,5%. 

A captação deve melhorar a estrutura de capital da companhia, reduzindo uma alavancagem de cerca de 3,8 vezes para algo mais próximo de 3x.  

Do total da oferta, R$ 1,15 bilhão vão para o caixa da companhia. A família Vilela de Queiroz, que hoje tem cerca de 28% do capital, está aproveitando o bonde para embolsar parte da valorização de cerca de 170% dos papéis nos últimos 12 meses. 

O follow-on da Minerva segue um plano de reestruturação da estrutura de capital que começou em 2018 com um aumento de capital privado de R$ 1 bilhão levado a cabo pela VDQ, a holding da família, e o Salic, o fundo saudita que hoje tem 30% da empresa. 

“Normalmente, o controlador vender não é um bom sinal”, diz um analista que acompanha de perto a empresa. “Mas nesse caso, a família está vendendo parte do que injetou na empresa num momento em que o mercado não estava disposto a dar o benefício da dúvida.”

O segundo passo do plano de desalavancagem era o IPO da Athena Foods, a unidade que reúne os ativos da companhia fora do Brasil. A Minerva pretendia listar esses ativos no Chile — onde as empresas negociam com prêmio sobre o Brasil e há uma escassez de histórias ligadas a proteínas. 

Mas o IPO naufragou já no primeiro semestre do ano passado, quando os investidores sinalizaram que só fechariam negócio a um preço abaixo do pedido pela companhia. Nos meses seguintes, a crise no Chile e na Argentina — país que responde por 30% dos negócios da Athena — enterrou de vez os planos. 

O follow-on anunciado hoje pegou os investidores de surpresa. 

Após anos de vacas magras para a carne bovina, o setor ressuscitou em grande parte graças à epidemia de gripe suína na China, que turbinou os preços de proteínas e abriu o maior mercado do mundo para exportações. 

No fim do ano passado, a Minerva conseguiu credenciar novas plantas para exportar para o país asiático, aumentando sua capacidade de embarque para os chineses em 54%. 

Com o ciclo mais favorável, a geração de caixa da Minerva voltou a engrenar no segundo semestre. Em seu Investor Day em novembro, a companhia disse esperar que o bom momento continue ao longo deste ano, e o mercado prevê resultados fortes para o quarto trimestre, ainda não reportado. 

A preços de hoje, a Minerva negocia a cerca de 6,5 vezes EV/EBITDA, enquanto a JBS — que deve ser objeto de uma oferta do BNDES nos próximos meses — negocia a um múltiplo mais próximo de cinco. “Nos preços de hoje, acho que JBS é uma oportunidade melhor”, diz um gestor que já investiu em ambas as companhias. 

A oferta da Minerva é coordenada por BTG Pactual, Bradesco BBI, BB e Itaú BBA. 

A precificação está prevista para o dia 23.