Sebastião Salgado, que clicou a luta e a miséria humanas e a pujança da Natureza em mais de 100 países, tornando-se o fotógrafo brasileiro mais aclamado do mundo, morreu hoje em Paris, onde vivia desde os anos 60.
Ele tinha 81 anos.
Sua obra “deixa um grande testemunho da condição humana e do estado do planeta,” disse a Academia Francesa de Belas Artes, da qual Salgado fazia parte desde 2016.
A causa mortis, segundo a família, foi leucemia, devido a complicações de uma malária contraída na Indonésia em 2010, quando fotografava a região para seu livro Gênesis, um dos temas monumentais aos quais se dedicou.
Sebastião foi “imenso, talvez o mais relevante fotógrafo de sua geração,” disse o fotógrafo João Farkas, autor dos livros Pantanal, Amazônia ocupada e Enquanto há tempo. “Com seu ofício, ele mudou o mundo um pouco para melhor. O que mais podemos esperar de um ser humano?”
Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em 8 de fevereiro de 1944 no município mineiro de Aimorés, onde seu pai possuía duas fazendas, Bulcão e Constância. Aos 26 anos, Salgado largou um emprego seguro no Instituto Brasileiro do Café em Londres, para abraçar a fotografia.
Formado em Economia na Universidade Federal do Espírito Santo em Vitória, a cidade onde conheceu sua esposa, dizia nunca haver se arrependido da decisão.
Fez o que muitos sonham mas não conseguem realizar: deixar uma situação segura para se lançar a uma outra paixão profissional.
Pela fotografia mudou-se para Paris, onde morou num daqueles quartinhos de 13 metros quadrados, no alto dos velhos prédios, as “chambre de bonnes”, os quartos de empregadas, sem banheiro privativo e onde só se chega por escadas.
Lá trabalhou para as agências Sygma, Gamma e Magnum, onde conviveu com o fotógrafo fundador da agência, Cartier Bresson. No dia 30 de março de 1981, estava no lugar certo e no momento certo, o sonho de qualquer fotojornalista.
Contratado pela revista do The New York Times para cobrir os 100 primeiros dias da presidência de Ronald Reagan, Sebastião foi barrado na entrada do hotel onde estavam os demais fotógrafos.
Ficou na calçada e registrou a cores os poucos segundos de disparos que por pouco não encurtaram o mandato do republicano. Negociados por milhões de dólares, os instantâneos melhoraram significativamente a vida do fotógrafo, que pôde comprar um apartamento em Paris numa área nobre, próxima ao rio Sena.
Ali montou sua base, com chão forrado por tábuas vindas de Aimorés, de onde partiu para as expedições que cobriram mais de 100 países. Suas fotos cobriram desde as catástrofes da guerra civil de Ruanda, e da fome no Sudão, as misérias de Bangladesh, as geleiras da Sibéria e as belezas dos Andes e dos indígenas da Amazônia.
Sua biografia está registrada no documentário O Sal da Terra, do premiado cineasta alemão Wim Wenders, com co-direção de Juliano, filho de “Tião,” como era chamado pela mulher e amigos.
No trecho final do filme, junto ao reflorestamento que fez na fazenda de Aimorés onde cresceu, Sebastião aponta para as árvores e declara: “essa floresta é a minha história.”
Sebastião deixa a esposa Lelia Wanick, e os filhos Juliano e Rodrigo.
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