A Light anunciou um follow-on para captar cerca de R$ 2 bilhões, considerando o preço atual em Bolsa, dos quais R$ 1,8 bilhão vão para o caixa da empresa e R$ 200 milhões serão vendidos pela Cemig.
A estatal mineira pode aumentar a venda para até R$ 600 milhões caso haja demanda pelo ‘hot issue’, o lote adicional de 20% do valor inicialmente previsto para a operação.
A oferta, que será precificada no dia 11, é crucial para reduzir a alavancagem da Light, que no fim de março representava 3,7 vezes sua geração de caixa anual — raspando no limite de 3,75x previsto nos contratos de dívida.
O sucesso da operação dependerá da capacidade da CEO Ana Marta Veloso, que assumiu o cargo no começo de maio, de convencer o mercado de que conseguirá reduzir o patamar de perdas de energia.
Pouco mais de um quarto da energia comercializada pela Light se perde na forma de ‘gatos’ ou inadimplência, um patamar bem superior ao coberto pela tarifas determinadas pela Aneel.
Ana Marta já comandou a Light entre o começo de 2016 e meados de 2017 e foi bem sucedida em negociar com a Aneel tarifas que acomodavam as perdas enquanto a empresa tenta convergir para padrões de eficiência determinados pela agência. O principal argumento: o Rio de Janeiro tem problemas particulares, como as vastas áreas dominadas por milícias e traficantes.
Mas a executiva acabou saindo da companhia por conta de desentendimentos com a Andrade Gutierrez, que na época estava no bloco de controle da Cemig.
A Cemig já tentou vender a Light, mas não encontrou compradores, e uma oferta subsequente que seria ancorada pela GP Investimentos naufragou no ano passado depois que a ação disparou de R$ 12 para cerca de R$ 18. A gestora queria pagar um preço menor que o de tela e o conselho da Cemig não topou dar o desconto.
Hoje, a ação da Light é negociada a cerca de R$ 19, o equivalente a um múltiplo de apenas uma vez sua base de ativos regulatórios, que serve de parâmetro para a remuneração via tarifas. (A título de comparação, Equatorial e Energisa negociam a quase 2,5x RAB, enquanto Neoenergia e Energias do Brasil têm um múltiplo mais próximo de 1,5x).
Desde que reassumiu a Light, Ana Marta — que entre 2008 e 2015 foi diretora da Equatorial, o benchmark em distribuição no País — reformou toda a diretoria.
O enxugamento reduziu o número de diretores de nove para seis; foram extintas as diretorias de comunicação, jurídica e de desenvolvimento de negócios e relações com investidores (a própria CEO vem fazendo o papel de RI).
Na semana passada, Ana Marta remanejou o diretor de engenharia, Dalmer Alves de Souza, para a diretoria comercial, a área que lida diretamente com as perdas.
Ainda na engenharia, Dalmer conseguiu reduzir drasticamente os indicadores de DEC e FEC, que medem a quantidade de vezes e a frequência em que a rede elétrica é desligada por problemas técnicos (grosso modo, quanto maiores esses indicador, menor a remuneração).
A ideia agora é que ele implemente a mesma cultura na área comercial.
Ana Marta também trouxe Alessandra Amaral, uma executiva com 14 anos de Energisa, onde liderou a área de comercialização, para a diretoria de energia.
Desde que assumiu o cargo, a CEO tem sinalizado que vai focar na cobrança de clientes que tem condições de pagar e localizados nas chamadas ‘áreas possíveis’ — aquelas em que seu quadro técnico consegue entrar para fazer medições e cobranças.
As perdas da Light chegam a 16% mesmo nas áreas mais acessíveis, um patamar bem acima de outras concessões na região Sudeste.
“Temos que cobrar consumo retroativo e disciplina de mercado desses clientes que têm condições financeiras”, disse a executiva na teleconferência dos resultados do primeiro trimestre. “Não podemos fazer como a Light fez agressivamente em 2018, focando em clientes suspensos e em áreas de risco, porque esses clientes não tem capacidade de pagamento.”
Banqueiros e gestores dizem que a Light é um alvo óbvio para uma aquisição. “Se a Ana Marta conseguir apontar o caminho para resolver a questão de perdas, a Light pode virar uma nova Eletropaulo”, diz um gestor em alusão à guerra de preços entre Enel e Iberdrola que resultou num prêmio gordo para a distribuidora paulista.
Na oferta, a participação da Cemig pode cair do atual patamar de 49,99% para uma fatia entre 23% e 30%, a depender da demanda pelo lote adicional.
O follow-on é coordenado por Itaú BBA, Citi, Santander, XP, BTG Pactual, Bradesco BBI e BB Investimentos.