A Centauro acaba de levantar R$ 900 milhões com uma nova oferta de ações — recursos que vão ajudar a varejista de esportes a atravessar a queima de caixa da quarentena e ficar pronta para novas aquisições.

A companhia vendeu 30 milhões de novas ações a R$ 30. Na primeira rodada do bookbuilding, as ordens em todos os níveis de preço chegaram a 7 vezes o tamanho da oferta.  Uma vez que o preço foi fixado, na repescagem as ordens ainda assim passaram de 4x.

Ao contrário do que alguns supõem, os recursos da oferta não serão usados para repagar o empréstimo — estimado em R$ 800 milhões — que a companhia obteve junto aos bancos para comprar a operação da Nike no Brasil.  

A empresa vai usar os recursos para investir pesado em gente, tecnologia e logística, agora que a aposta do modelo omnichannel deixou de ser uma opcionalidade para se tornar um imperativo, e para reforçar o seu caixa depois de dois meses com a vasta maioria de suas lojas fechadas.  (Mais de 90% das lojas da Centauro ficam em shoppings.)

“Essa capitalização viria de qualquer jeito e é importante, mas depois da covid ficou mais urgente,” diz um analista.  “A companhia entrou na pandemia com um caixa mínimo muito baixo e pouca margem de manobra.”

Gestores que decidiram ficar fora da oferta citaram uma questão de preço e a falta de visibilidade no acordo com a Nike.

O acordo de R$ 900 milhões foi anunciado em fevereiro, mas o closing só deve acontecer em setembro. Os termos foram acordados pré-pandemia, quando o dólar era menos pornográfico. Além de ganhar a exclusividade da marca no Brasil, a Centauro está comprando essencialmente o capital de giro (que inclui o estoque) e alguns ativos.

Além de um ajuste no preço para refletir o novo nível de capital de giro, a Centauro vai ter que discutir todos os termos da operação por conta da mudança de patamar do câmbio.

“Os royalties, o markup, os preços de importação… Foi tudo negociado com o dólar a R$ 4 ou R$ 4,20. Agora, esse câmbio acima de R$ 5 torna muitos produtos inviáveis,” diz um gestor. “Ou a Nike senta e renegocia ou esse acordo não vai ter tanto valor assim pra Centauro.”

Durante o roadshow, o CEO Pedro Zemel disse a investidores que continua confiante, mas que, se por algum motivo o negócio não fechar, a companhia aproveitará oportunidades geradas pela crise para fazer outras aquisições oportunísticas na vertical de esportes — não necessariamente no segmento de varejo.

Zemel também disse que a companhia conseguiu reduzir seus custos fixos (SG&A) pela metade durante a pandemia.

A oferta de hoje representou uma diluição de 12,5% para o fundador Sebastião Bonfim e a GP Investimentos, que detêm respectivamente 45% e 26% da companhia. A Centauro fechou o dia valendo R$ 6,6 bilhões na B3.

Os coordenadores da oferta foram Bradesco BBI (líder), BTG Pactual, Itaú BBA e Santander Brasil.