Depois de comprar 10,3% da CCR há um mês, a Itaúsa vai frear os investimentos no curto e médio prazo, o CEO Alfredo Setúbal disse hoje a investidores.

A holding que é dona de 37% do Itaú Unibanco e de participações em empresas como Alpargatas, Dexco, NTS, Copa Energia e Aegea disse que vai esperar as empresas não-financeiras investidas “crescerem, gerarem lucros e aumentarem o fluxo de dividendos antes de pensar em novos investimentos.”

“Claro que pode aparecer uma grande oportunidade, mas não estamos em busca de novos ativos,” disse o CEO. “A ideia agora é focar na desalavancagem.”

10060 74db7184 a25c 0000 032c 7b9d3474afb0Depois de emitir uma debênture para financiar parte da compra da CCR, a alavancagem da Itaúsa subiu de 4,5% do passivo total + patrimônio líquido – a métrica monitorada pela empresa – para 7,1%. 

A holding tem uma dívida bruta de R$ 8,1 bilhões.

Segundo Alfredo, esse nível de alavancagem ainda é “confortável” dada a geração de caixa da holding e o valor de seus ativos, e “poderia ser até um pouco acima.”

A Itaúsa disse que as empresas não-financeiras que entraram no portfólio nos últimos anos também se alavancaram para investir em crescimento e estão numa fase de alto capex.

“Mas no médio prazo, uns três ou quatro anos, esperamos que essas empresas se desalavanquem, reduzam o capex necessário para seus investimentos e aumentem o fluxo de dividendos para a Itaúsa,” disse o CEO.

Quando isso acontecer, a Itaúsa poderá aumentar o seu próprio dividendo a grande preocupação de dez em cada dez investidores pessoa física da empresa. (Na call de resultados, boa parte das perguntas de acionistas era sobre isso.)

Desde 2020, a Itaúsa vem pagando o mínimo exigido pelo estatuto – um payout de 25% do lucro líquido – o que deve continuar no curto prazo. Dentro de três ou quatro anos, ela deve voltar a um payout mais próximo de sua média histórica, em torno de 40%. 

Como parte dessa gestão de caixa, a Itaúsa planeja fazer as próximas vendas de sua participação na XP de forma casada com o cronograma de amortização de suas dívidas, disse Alfredo. 

Há ainda outros dois usos para os recursos das vendas da XP: financiar novos investimentos, como foi o caso da CCR; e aumentar as receitas da holding como forma de gerar eficiência tributária. 

A Itaúsa já vendeu o equivalente a 3,4% do capital da XP, embolsando cerca de R$ 2,4 bilhões. A holding ainda tem uma participação equivalente a 10,3% da corretora, avaliada hoje em R$ 9,2 bi.

Os comentários foram feitos um dia depois da Itaúsa reportar seus resultados do segundo trimestre. A companhia teve um lucro líquido recorrente de mais de R$ 3 bilhões, uma alta de 5,5%, e um ROE de 18%. 

O valor dos ativos da holding fechou próximo de R$ 100 bilhões, uma queda de 22% – em grande parte pela deterioração dramática do mercado de ações.

Os números vem num momento em que a holding negocia com um desconto de 23,6% em relação ao valor de seus ativos – um patamar que o CEO considera exagerado. 

“Esse desconto deveria voltar aos níveis históricos, de algo em torno de 20%, e até cair mais,” disse o CEO. “O desconto mais correto, na nossa visão, seria algo em torno de 15%.”

Segundo ele, esse desconto excessivo pode ter a ver, em parte, com a redução do payout, já que muitos investidores carregam o papel em busca de dividendos. 

Mas os investidores também estão deixando de atribuir valor aos novos investimentos da holding.

“Muitos ainda olham a Itaúsa como uma forma de comprar Itaú barato, mas achamos que isso vai mudar com o tempo, à medida que o fluxo de recursos dessas empresas [não-financeiras] começar a aumentar,” disse Alfredo. “Mas é uma jornada, somos um investidor de longo prazo.”