Dois anos depois da tormenta, o IRB Brasil RE pela primeira vez está dizendo ao mercado que pode finalmente entregar um resultado no azul em 2022.

“Fechamos o ano com metade do prejuízo do ano anterior, o que mostra que estamos no caminho correto,” disse ao Brazil Journal o CEO Raphael de Carvalho, que assumiu em setembro. “Esperamos continuar nesse caminho e que ele nos leve a um resultado positivo em 2022.”

Apesar dessa sinalização positiva, a empresa continuará sem fornecer guidance ao mercado.

O IRB disse que seu prejuízo no 4T21 foi de R$ 371 milhões, 42% menor do que no mesmo período do ano anterior. No ano, a perda ficou em R$ 683 milhões, 54% inferior à de 2020.

O desempenho ainda é muito afetado pelo legado de contratos problemáticos fechados pela gestão Cardoso/Passos, os antigos CEO e CFO.  Depois que ambos deixaram a empresa em março de 2020, a nova administração encontrou fraudes no balanço. A crise no ressegurador começou quando a gestora Squadra montou um short no papel questionando os resultados da empresa.

Raphael disse que o resultado do ressegurador vai começar a reagir este ano por algumas razões. “Vamos nos afastar cada vez mais da herança da administração anterior, ao mesmo tempo em que as novas políticas adotadas ganharão mais peso nos números,” disse.

O IRB passou a focar a operação no Brasil e em alguns países da América Latina, onde acredita ter diferencial competitivo.
Além do esforço interno em novos contratos, o cenário para este ano também é mais favorável: os juros mais altos têm impacto positivo no resultado financeiro da empresa.

O cenário também deve favorecer o IRB, ele disse, uma vez que a  covid vai deixar de ser um assunto principal, o que favorece o crescimento econômico – os sinistros por conta da pandemia impactaram em R$ 146 milhões os resultados de 2021, disse o CEO.

No ano, os sinistros somaram R$ 6 bilhões – 46% concentrados nos segmentos “vida” e “rural” (principalmente no exterior). Do total dos sinistros, 75% foram referentes a contratos anteriores a 2020.

O volume total de prêmios emitidos em 2021 foi de R$ 8,8 bilhões, com redução de 8,7% sobre 2020. O Brasil respondeu por 61% do total, com R$ 5,3 bilhões e crescimento de 9%. Os prêmios emitidos no exterior caíram 27% e ficaram em R$ 3,4 bilhões.

O IRB fechou 2021 com suficiência de R$ 236 milhões nas provisões técnicas e de 106% em relação ao capital mínimo requerido. Os dois índices estão acima do requerido, mas pioraram em relação ao terceiro tri, quando a empresa reportou R$ 647 milhões de suficiência nas provisões técnicas – ou 142% do capital mínimo requerido. A situação da liquidez da empresa deverá ser monitorada de perto pelo mercado, apesar do otimismo demonstrado pela administração para o resultado deste ano.

O CFO Willy Jordan disse que os índices foram impactados pelos resultados do trimestre e também pela volatilidade das carteiras e do mercado.

Segundo ele, faz parte da rotina da empresa monitorar esses indicadores e atuar para fortalecê-los, se for o caso. Entre as alternativas estão operações estruturadas redutoras de provisões, transferência de carteiras em runoff, reduções de investimentos imobiliários, emissão de dívida subordinada ou de ações.

“Caso eventualmente a administração julgue necessário implementar alguma dessas medidas, vamos informar ao mercado,” disse Willy, que não descartou um aumento de capital em conversa recente com analistas do Citi.

O ressegurador também divulgou um índice de solvência total – geralmente utilizado em outros países – de 232% no quarto tri, ante 264% no trimestre anterior.