O Insper está tentando levantar US$ 27 milhões em doações para seu novo programa de ciência da computação – uma parceria com a Universidade de Illinois que implanta uma metodologia de ensino inovadora para a carreira mais quente do momento.
As doações – que já somam US$ 12,5 milhões – vieram até agora de quatro doadores históricos da instituição, incluindo a Haddad Foundation, de Claudio Haddad, o fundador do Insper.
Os recursos vão financiar os custos dos primeiros cinco anos, a partir de quando o programa deve se tornar autossuficiente, e incluem um pagamento de US$ 2 milhões/ano a Illinois em troca de algumas contrapartidas.
As duas universidades vão fazer pesquisas em conjunto, e o Insper poderá usar uma série de tecnologias pedagógicas proprietárias de Illinois para o ensino de computação – por exemplo, uma ferramenta de feedback automático dos exercícios dos alunos usando machine learning.
O Insper também vai mandar dois professores para Illinois a cada ano para uma imersão no departamento de ciência da computação da universidade – um dos maiores do mundo, com 160 professores full-time e mais de 6 mil alunos.
“O departamento de computação deles sozinho é do tamanho do Insper,” Marcos Lisboa, o presidente do Insper, disse ao Brazil Journal. “Eles são pioneiros entre as grandes universidades no ensino de computação integrada com outras graduações.”
A aposta do Insper vem num momento em que a falta de engenheiros de computação e programadores tem se tornado um gargalo para grandes empresas e startups. O tema já atraiu outros esforços filantrópicos.
No ano passado, André Esteves doou R$ 200 milhões para a criação do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), com a visão de construir uma espécie de ‘MIT brasileiro’.
No Insper, a criação do programa de ciência da computação faz parte de um processo de expansão da grade que começou com a criação de três programas de engenharia em 2013. Até então, os grandes focos do Insper eram economia e administração.
A primeira turma do novo programa começou em fevereiro; a formação completa tem duração de quatro anos.
“Tentamos criar uma graduação que cursá-la seja como trabalhar com ciência da computação. Os bootcamps fazem isso também, mas você não sabe realmente o que cada aluno contribuiu para o projeto e como cada aluno iria performar individualmente,” disse Fabio Miranda, o coordenador do curso. “O nosso programa faz isso: temos de 5 a 10 pontos de medição individual por aula.”
No primeiro semestre, os alunos têm 30 horas de uma disciplina chamada Developer Life, trabalhando em projetos numa sala que simula o dia a dia do mundo corporativo.
A aula começa com o desenvolvimento de um game e evolui para a resolução de um problema real de uma das empresas parceiras.
A primeira turma, por exemplo, teve que criar um sistema interno para registrar o trabalho dos programadores da PagSeguro. O sistema mantém o registro de quais programadores trabalharam em quais times e quanto tempo cada um fez parte de determinado projeto.
“A utilidade é ver quem trabalhou com quem, e em quais projetos, para depois pensar na composição dos próximos times,” disse Fabio.
Os alunos ficaram cinco semanas desenvolvendo esse sistema, e tiveram interface direta com um programador da PagSeguro, que se reunia com eles uma vez por semana.
O deploy do sistema será feito amanhã, quando os desenvolvedores e gerentes da PagSeguro vão analisar o sistema entregue pelos alunos, dar feedbacks, e decidir se vão usar partes dele ou extrair ideias.
“Todo final de semestre tem um projeto desse tipo que vai ficando mais difícil. Esse primeiro foi focado em usabilidade e UX; o próximo vai ser na tomada de decisão com uso de dados; o terceiro em inteligência artificial; e o quarto em inovação social,” disse Fabio.