Os juros do Banco Central sobem e descem, a taxa de câmbio também, mas o cardiograma da indústria não se altera. 
 
10887 40e28d7a b493 dfd5 011f 7a43b255fa21A conclusão não muda quando se inclui na conta o comportamento das concessões de crédito do BNDES: a produção industrial está praticamente estagnada nos últimos anos e longe de recuperar o pico pré-crise (para ser precisa, 17% abaixo).

É verdade que os indivíduos cada vez menos consomem produtos industrializados, aumentando a participação de serviços em sua cesta. A “Uberização”, o avanço tecnológico, a vida moderna  – são todos fatores que contribuem para esse quadro.

Ainda assim, o Brasil destoa da experiência mundial com cifras mais positivas.

Em uma economia cuja dinâmica é muito mais determinada pelo mercado interno, seria de se esperar que o aumento das vendas do varejo fosse seguido pela produção industrial. Não é o caso. Enquanto as vendas do varejo aumentaram em média  4,3% ao ano entre 2017-19, a indústria cresceu apenas 0,8%.

Tem algo muito grave acontecendo com a indústria. O mundo avançou e o Brasil, não — mesmo com juros baixos.

Certamente não serão políticas macroeconômicas convencionais que irão produzir uma retomada da produção industrial.

O quadro de fraqueza da indústria não deverá mudar tão cedo, pois seu problema central é a baixa produtividade — o que demanda reformas estruturais — e o parque industrial obsoleto. O resultado é a retomada do aumento da participação do produto importado no consumo interno nos últimos anos, mesmo com a alta do dólar.

O movimento não é muito homogêneo: impacta mais os setores sofisticados tecnologicamente, mas os demais segmentos também não escapam, segundo os dados do IPEA. Os bens de consumo semi/não duráveis exibem menor coeficiente de penetração de importados, mas a tendência tem sido de alta.

O  segmento mais preservado nos últimos anos tem sido o de bens de consumo durável. O coeficiente de importação (dado de 2018) está abaixo do pico de 2011, segundo estudo do BC. Os bens duráveis importados são mais sofisticados que o nacional, porém muito caros para o consumidor brasileiro mediano.

O círculo vicioso é claro. Com baixa produtividade, os investimentos são baixos e aumentam o hiato em relação ao produto importado, mais sofisticado, agravando o quadro de baixa competitividade externa.

A saída para a indústria é a agenda para aumentar a produtividade da economia, posto que é o setor que mais sofre com o custo-Brasil. Ele encarece a produção a ponto de inviabilizar alguns segmentos, notadamente nas empresas de porte médio, sendo que o custo elevado não é facilmente repassado aos preços por conta da concorrência com o importado, diferentemente do setor de serviços.

Para começar, a indústria deveria apoiar a reforma tributária que está tramitando na Câmara. A introdução do imposto sobre o valor agregado contribuiria para dividir melhor o bolo tributário entre os setores, atualmente mais pesado na  indústria. Por ora, só se vê manifestação, e contrária, do setor de serviços, que teme impostos mais elevados diante do objetivo de mais equidade tributária.

Não há mais espaço para omissão da indústria.

 
Zeina Latif é consultora econômica.