O iFood vai receber mais US$ 500 milhões de seus atuais investidores, dobrando a aposta num segmento de concorrência cada vez mais brutal onde Rappi e Glovo apostam na entrega multi-categoria como o modelo vencedor.

O aporte anunciado hoje é o maior já feito numa startup na América Latina, e está sendo liderado pelos atuais acionistas do iFood:  o conglomerado sul-africano Naspers e o Innova Capital, o fundo gerido por Verônica Serra e que tem como investidores os fundadores da 3G Capital. 

No entanto, apenas 80% do aporte é realmente novo.  Naspers e Innova estão injetando US$ 400 milhões, enquanto a Movile, que controla a empresa, está aportando os outros US$ 100 milhões.  (Os recursos da Movile vêm de um aporte de US$ 124 milhões feito pelos mesmos acionistas em julho). 

Até hoje, em toda sua história, a Movile captou US$ 375 milhões. 

Num mercado em que a sobrevivência é definida pela capacidade de queimar caixa para conquistar clientes, a nova captação deve dar um fôlego extra de cerca de 14 meses para o iFood. 

A empresa não abriu o valuation desta rodada, mas afirmou que em março do ano passado tinha sido avaliada em US$ 1 bilhão. 

O dinheiro novo vem num momento de competição acirrada entre os aplicativos de delivery e multidelivery no Brasil – com concorrentes em expansão agressiva e bem capitalizados. 

Em setembro, o Rappi recebeu um aporte de US$ 220 milhões liderado pelo fundo DST Global, numa rodada que avaliou a companhia em mais de US$ 1 bilhão.  A espanhola Glovo, que chegou ao Brasil em fevereiro, também recebeu um aporte de € 115 milhões em julho.

Apesar do aumento da concorrência, o iFood – líder isolado no mercado – vem se expandindo. Em outubro, foram 10,8 milhões de pedidos ou 390 mil pedidos por dia, um aumento de 109% em relação ao mesmo período de 2017. A expectativa é que esse número chegue a 12 milhões ainda este mês.  

A plataforma tem 9,1 milhões de usuários ativos – ou 16 vezes o concorrente mais próximo, segundo a própria companhia com base em dados da plataforma SimilarWeb. 

O número de restaurantes na base também praticamente dobrou, saindo de 27 mil para 50 mil em outubro deste ano. A base de entregadores avançou de 63 mil para 120 mil no mesmo período. 

A captação sublinha o bom momento para as startups no Brasil. 

Neste ano, além da captação da Rappi, a Yellow, de bikes e e-scooters, recebeu um cheque de US$ 63 milhões, no maior Series A da história do VC da América Latina.

A Monashees, maior gestora de venture capital brasileira, na semana passada captou o maior fundo de sua história, de US$ 150 milhões, com investidores como o Temasek, de Cingapura, e a CreditEase, empresa de tecnologia financeira da China. O fundo só não foi maior porque a gestora preferiu segurar a demanda.

“Está muito mais fácil vender a tese de Brasil lá fora porque, além de um mercado gigantesco e subpenetrado, o país já tem resultados para mostrar”, diz um gestor de VC, que aponta a venda da 99 para a Didi Chuxing, no começo do ano, como um marco na história das startups. “Estamos chegando num ponto de inflexão.”  

No caso do iFood, chama a atenção o fato de não haver novos investidores – o que pode indicar tanto uma tentativa de não diluição da Naspers e da Innova, quanto um ceticismo por parte de quem ainda não está na base acionária. “É um valuation puxado, numa empresa controlada por investidores, num espaço que vai ficar cada vez mais competitivo”, aponta o gestor.

Segundo Fabricio Bloisi, CEO da Movile, ‘possivelmente’ novos investidores vão entrar mais à frente, ampliando a captação.  

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