A Yellow, empresa de compartilhamento de bikes e patinetes motorizadas lançada pelos fundadores da 99, acaba de fechar uma captação de US$ 63 milhões – ou pouco mais de R$ 260 milhões.
O cheque – o maior para um investimento ‘Series A’ na América Latina, de acordo com o TechCrunch, que noticiou o aporte em primeira mão – deve ajudar a consolidar sua vantagem de first mover num mercado em que a concorrência promete ser ainda maior e mais veloz que a dos aplicativos de carona.
A nova captação foi liderada pela GGV, um fundo de venture capital que administra cerca de US$ 6 bilhões e já investe em aplicativos de mobilidade urbana como o Grab, no sudeste da Ásia, a holandesa Hellobike e a chinesa Didi Chuxing (para quem a 99 foi vendida no começo do ano por mais de US$ 1 bilhão).
A Monashees também está entre os investidores.
Em abril, a Yellow já havia levantado US$ 12,3 milhões numa rodada de seed capital.
A rodada anunciada hoje – menos de dois meses depois das magrelas amarelas da Yellow começarem a pipocar no centro expandido São Paulo – denota o apetite dos VCs pelo segmento, a evolução natural do mercado de mobilidade desbravado por apps como o Uber e, no Brasil, a própria 99.
A Yellow funciona num esquema conhecido como ‘dockless’: o usuário baixa o aplicativo e consegue ver as bikes que estão mais próximas dele. A trava é liberada por meio de um QR Code. O valor é de R$ 1 a cada 15 minutos. Por enquanto, a rede atende apenas a capital paulista. A meta é ter até 20 mil bikes (apenas em São Paulo) até o fim do ano e 100 mil (em diversas cidades) em 2019.
Fontes de mercado dizem que há cerca de cinco empresas de olho no mercado brasileiro de bikes e scooters (patinetes). A Mobike, líder na China – onde as bikes compartilhadas já fazem parte da paisagem das grandes cidades –, já tem licença para operar em São Paulo.
Uma vantagem do setor: não ter que recrutar uma rede de prestadores de serviços como os aplicativos de carona ou delivery.
“Parece contraintuitivo, mas a verdade é que se gasta menos dinheiro para colocar uma bike na rua do que para fidelizar um motorista ou entregador”, diz um investidor que conhece de perto a indústria. “Isso para não falar que bicicleta não comete assédio sexual, não move processo trabalhista…”
O desafio é sair na frente da concorrência e ter controle sobre a cadeia de produção para garantir uma oferta constante de bikes nas ruas – e em boas condições.
Ao TechCrunch, o CEO da Yellow, Eduardo Musa, disse que os recursos serão usados para entrar em novos mercados, como México, Chile e Argentina, mas principalmente para desenvolver uma fábrica própria de scooters.
Apesar de as patinetes elétricas já terem virado uma febre em São Francisco e outras cidades americanas, a oferta hoje é restrita à Segway – a mais tradicional no setor – e a poucas fabricantes chinesas.
“Não há capacidade disponível ou fábricas preparadas para atender a essa demanda que veio com outras empresas de scooter sharing”, disse Musa ao TechCrunch. “Isso se tornou rapidamente o principal gargalo para o setor”.
De bicicleta, Musa entende. Ele comandou a Caloi por 12 anos, até o fim de 2016. No começo do ano passado, juntou-se a Ariel Lambrecht e Renato Freitas – que tinham acabado de vender a 99 – para fundar a Yellow.
A verticalização da oferta dá outra vantagem competitiva à Yellow. Ao controlar o processo produtivo, a empresa não só tem melhor controle dos custos como garante a qualidade e a reposição das magrelas e das scooters – além de ter a prerrogativa de produzir peças que se aplicam somente a seus modelos, reduzindo o risco de roubo.
Desde que as amarelinhas começaram a aparecer em São Paulo, houve diversos relatos de roubo e bicicletas vandalizadas – frequentemente expostas como um exemplo do ‘risco Brasil’ do negócio.
A verdade é que o risco é inerente ao modelo, em qualquer país. “Em todos os países, o vandalismo e o roubo foram comuns no princípio”, diz um investidor. “Mas à medida que as bikes e as scooters vão se tornando populares, acaba o valor de escassez e o roubo não vale mais tanto a pena”.
Nos Estados Unidos, só neste ano, dois unicórnios já brotaram no segmento. Em maio, a Lime, que opera na cidade de San Mateo, na Califórnia, levantou US$ 250 milhões de um grupo de investidores liderado pela Alphabet, controladora do Google, com um valuation de US$ 1 bilhão.
A Bird, baseada em Santa Mônica, conseguiu outros US$ 150 milhões uma rodada capitaneada pela Sequoia, com um valuation semelhante.
No Vale do Silício, a febre das patinetes elétricas é tão grande que já virou problema em São Francisco. O vai-e-vem dos millennials entre um compromisso e outro nas calçadas e as centenas de scooters largadas nas ruas já é considerada ‘poluição visual’ e uma ameaça à segurança dos pedestres pela prefeitura.
Em maio, a cidade determinou que quem quiser operar no segmento precisa de uma licença – e por enquanto, autorizou apenas cinco companhias a terem 500 scooters cada. As patinetes não podem mais circular na calçada e os ‘motoristas’ são obrigados a usar capacete. Uber e Lyft já estão na fila para conseguir sua licença no segmento.