A Naspers, conglomerado de mídia sulafricano, começou a embolsar o que é, muito provavelmente, o mais bem-sucedido investimento na história do venture capital mundial.
A companhia anunciou hoje que vai vender 2% da Tencent, a gigante chinesa dona do WeChat, num negócio que vai levantar US$ 10 bilhões. A venda vai reduzir a fatia da Naspers de 33% para 31% da Tencent.
Comparado ao perfil exuberante das empresas de Big Tech, a Naspers é um Rei Midas silencioso: investiu US$ 34 milhões (sim, milhões!) na Tencent em 2001, na época um negócio arriscado num país em que praticamente ninguém usava a Internet. Hoje, essa participação vale US$ 170 bilhões.
Para muitos investidores, o valor da participação na Tencent faz da Naspers uma joia escondida. A empresa vale US$ 113 bilhões na bolsa de Joanesburgo, cerca de 30% menos que sua fatia na chinesa. Parte desse desconto é explicado por uma política tributária que taxa a distribuição de dividendos na fonte. Mas alguns investidores ponderam que o deságio é para lá de exagerado.
Numa recente entrevista à Barron’s, Danton Goei, que administra US$ 25 bilhões no Davis International Fund, defendeu a Naspers como sua principal aposta. Para ele, a companhia negocia com um desconto de 50% em relação à soma de suas partes.
Além da Tencent, a Naspers também é a líder em TV por satélite na África, com 10 milhões de assinantes. Tem 15% da Flipkart, a segunda maior empresa de ecommerce da Índia, e é uma das maiores empresas de classificados online no mundo. A companhia investe ainda no Mail.ru, dona de duas das três maiores redes sociais da Rússia, e na Delivery Hero, a empresa de delivery alemã que está se expandindo para o mundo.
A venda da fatia na Tencent é uma tentativa de reduzir o desconto em relação à soma das partes e mostrar que a Naspers pode encontrar outras fontes de crescimento (ainda que, probabilisticamente, as chances da Naspers replicar seu sucesso chinês sejam próximas de zero).
De acordo com a própria Naspers, os recursos serão utilizados para investir em negócios de “entrega de comida, classificados online e fintechs, ou qualquer outra oportunidade interessante que possa aparecer.”
Mas o anúncio de que a Naspers não pretende vender novas ações pelo menos até 2021, não deve distribuir dividendos e nem fazer recompras azedou os investidores. Os papéis chegaram a cair 9% na bolsa local e encerraram o dia em baixa de 5%.
A Naspers nasceu em 1915 como ‘De Nationale Pers Beperkt’ para produzir um jornal em holandês voltado à população africâner da África do Sul e que acabou de tornando um dos principais porta-vozes do Partido Nacional, que defendia o apartheid.
A empresa também atua no Brasil. É controladora da In Loco, que tem tido um crescimento relâmpago com uma tecnologia de geolocalização inovadora. Em 2006, a Naspers comprou uma fatia de minoritária no Grupo Abril, mas vendeu anos depois, com prejuízo. Também entrou no Buscapé e controla a Movile, dona do iFood, com 70% do capital. Além disso, é sócia da OLX no mundo, incluindo a operação brasileira, que se fundiu com o Bom Negócio.