A economia brasileira apresenta baixo crescimento da renda e da produtividade há mais de quatro décadas. Neste artigo, sistematizamos dados que evidenciam esse baixo desempenho em comparação com o de outros países.

O artigo é meramente descritivo. Apresentamos a evolução do PIB por trabalhador e do PIB per capita do Brasil e de outros países nos últimos 50 anos, usando dados da Penn World Tables, uma base bastante ampla que reúne informações detalhadas de diversos países desde meados do século passado.

A economia brasileira apresenta bom crescimento da renda em diversos anos desse período. Contudo, a frequência de anos de baixo crescimento da renda supera em muito a observada nos demais países. Como os gráficos abaixo mostram, a produtividade do trabalho no Brasil apresentou uma piora relevante no caso nos últimos 40 anos.

Fato 1: Dividimos os países em 3 grupos: economias avançadas, em desenvolvimento e pobres. Dentro de cada subgrupo, existe uma tendência de maior crescimento médio nos países com menor renda por trabalhador inicial em 1970. Em outras palavras, convergência condicional.

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Fato 2: O gráfico 2 mostra a tendência de crescimento desde 1990. A relação entre menor renda inicial e maior crescimento econômico fica mais tênue. O Brasil apresenta menor crescimento econômico nesse período em comparação com a tendência média dos demais. O contrário ocorre com a China.

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Fato 3: Em 1980, a média móvel de 20 anos da taxa de crescimento da produtividade do trabalho no Brasil era bem superior à de outros emergentes e economias pobres. Crescíamos de forma similar às economias ricas, que entre 1960 e 1980 apresentaram enormes ganhos de produtividade, além de terem sido impulsionadas pela reconstrução associada ao fim da Guerra.

Desde então, contudo, o crescimento da produtividade no Brasil se reduziu significativamente. Nota-se uma pequena melhora nos anos 1990 e 2000, mas de curta duração. Em 2019, a taxa de crescimento tendencial – a média móvel de 20 anos do produto por trabalhador — estava fortemente abaixo da testemunhada por países ricos, emergentes e pobres.

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Analisamos também a média móvel de 10 anos, obviamente mais volátil, mas com mensagem similar. A queda da produtividade do trabalho no Brasil nos anos 1980 é mais expressiva, e agora seguida por uma forte recuperação nos anos 1990. Na sequência, contudo, um sobe e desce montanhoso com média um pouco abaixo de 1% ao ano.

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Fato 4: Aqui dividimos a amostra em dois períodos: crescimento da produtividade do trabalho entre 1970 e 1994, em comparação com o seu crescimento entre 1995 e 2019. O Brasil apresentou uma das maiores quedas do crescimento da produtividade entre os países emergentes e pobres.

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Fato 5: A produtividade do trabalho cresceu pouco no Brasil em comparação com a da China e mesmo a dos EUA nos últimos 50 anos, com uma frequência elevada de anos de baixo desempenho, o que pode ser visualizado num gráfico de distribuição.

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Fato 6: O Brasil possui anos de taxas razoavelmente elevadas de crescimento desde 1980. Mas teve igualmente um número desproporcionalmente alto de anos com crescimento abaixo de 1%, como mostra o gráfico a seguir utilizando uma amostra de 82 países que exclui as economias ricas. Destaca-se o número de países da América Latina entre os 20 piores de cada subperíodo.

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Concluindo, até meados dos anos 1970 o Brasil teve um desempenho econômico vigoroso e similar ao dos países desenvolvidos, que na época cresciam a taxas historicamente elevadas. Desde então, contudo, nossa produtividade cresceu fracamente, com alguns anos de aumento da renda mais expressivo, porém com uma frequência bastante elevada de anos de baixo crescimento em comparação com os demais países.

Carlos Eduardo Gonçalves é economista sênior do FMI. Marcos Lisboa é sócio da Gibraltar Consulting.