Quando o Ministro Paulo Guedes pisou no palco do Transamerica Expo Center, a música subiu, as pessoas se ergueram e a casa veio abaixo.

Talvez a luz forte dos holofotes impedisse Guedes de ver aqueles que o saudavam como um herói, mas, à sua frente, 8 mil agentes autônomos e outros convidados aplaudiam, assobiavam e davam sua aprovação ao fiador da economia no Governo Bolsonaro.

Bem-vindo ao primeiro dia da Expert, a feira anual de três dias que a XP Investimentos usa para animar seu exército de assessores, atrair novos e fisgar clientes em potencial.

“Isso aqui é o que há em termos de feiras de investimentos,” diz Carlos Takahashi, o head da BlackRock no Brasil.

Só ontem, no primeiro dia, 10.200 pessoas passaram pelo evento, cujo ingresso básico custa R$ 1.500 (o primeiro lote) e o VIP começa em R$ 2.600.

Uma espécie de Lollapalooza do mercado financeiro, um Woodstock com pouco rock e muito gel, a Expert é um lugar para ver e ser visto — e testemunho da dominância da XP entre as plataformas de investimento:  quase 100 gestoras de investimentos estão marcando presença, com stands que começam em R$ 90 mil e podem chegar a R$ 390 mil.

É caro, “mas vale cada centavo,” me disse um gestor que pagou o stand mais barato e gastou mais R$ 30 mil com a estrutura. “No ano passado, a gente não tinha stand e era difícil puxar as pessoas para conversar.  Agora, as pessoas param aqui.” 

A Expert também oferece uma fotografia Polaroid do momento econômico brasileiro: com as taxas de juros maravilhosamente baixas para padrões históricos (e com viés de queda), os agentes autônomos são a indústria que mais floresce no Brasil, fazendo a ponte entre o investidor com raiva da poupança e o admirável mundo novo das gestoras independentes.

Em jogo:  um naco dos R$ 800 bilhões que os brasileiros têm investido nas cadernetas, ou dos outros R$ 800 bilhões do mercado de previdência privada, onde os cinco maiores bancos têm um market share de 95%.

A pujança é palpável.  A Monte Bravo, um escritório de autônomos que começou em Santa Maria (RS) há nove anos, já está em seis cidades e tem R$ 5 bi sob sua assessoria.  Ano passado, a Monte Bravo tinha uma captação líquida de R$ 50 milhões/mês — hoje, está captando R$ 250 milhões/mês, me disse Pier Mattei, o sócio fundador.

A XP, que já tem 6 mil agentes autônomos plugados em seus sistemas, convidou outras 5 mil pessoas (muitos, gerentes de banco) para tentar seduzi-los durante a Expert.

O evento não gera lucro.  “Toda a receita é investida para aumentar a experiência e fazer o negócio ainda maior,” diz Guilherme Kolberg, o head de customer experience da XP (sim, eles têm isso). Kolberg estima que a XP e os 130 patrocinadores do evento deste ano (o dobro do ano passado) investiram conjuntamente mais de R$ 100 milhões entre a montagem de estruturas, ativações e brindes.

(Ontem por exemplo, a Prudential ofereceu a clientes um show com Toni Garrido; a B3 vai trazer Kaká para falar sobre “jogadores de futebol que investem”, e a própria XP está trazendo o ex-chairman do Fed, Ben Bernanke, e Chris Gardner, o corretor americano cuja história de superação foi a base do filme ‘À procura da felicidade’.)  

Ninguém fica parado no evento. Num stand, uma executiva da Goldman Sachs enviada de Nova York tentava me vender um COE; no outro, Alexandre Silvério, da AZ Quest, explicava o índice Sharpe de seus fundos aos agentes autônomos da Legado, um escritório de Joinville; no stand da Alaska, Henrique Bredda tirava fotos com fãs enquanto, ao lado, Luiz Alves parecia não dar bola pra nada.

O assunto investimentos é sério, mas o mercado financeiro também é uma puta farra:  Tio Ricco, o oráculo anônimo do bom senso, fez uma aparição (por trás de um biombo, claro); a Mongeral Aegon servia jamón ibérico a quem passava no seu stand; enquanto a Audi mostrava o novo e-Tron, seu coupé superesportivo com 4 motores elétricos que vai de de 0 a 100 km/h em 6,6 segundos. (Não perguntei o preço para não chorar.)

Na lojinha da XP, que vende souvenirs com o logo da empresa, os preços ainda eram módicos, apesar do bull market: a camiseta saía por R$ 60, a camisa polo, por R$ 70, e o colete acolchoado (o uniforme da Faria Lima), por R$ 220.