A 3G Capital está levantando um novo fundo — de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões — para co-investir na compra de seu próximo alvo, disseram ao Brazil Journal fontes próximas à gestora de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Pelo menos 10 brasileiros já se comprometeram a investir pelo menos US$ 100 milhões cada.
Nas conversas com potenciais investidores, a 3G tem expressado preferência por cheques desta ordem de grandeza. Investidores que acenaram com tíquetes de US$ 20 milhões e US$ 50 milhões foram educadamente declinados. Alexandre Behring, o sócio da 3G que administra o dia-a-dia da empresa, tem se envolvido pessoalmente no ‘fundraising’.
Mesmo pedindo um cheque em branco, levantar dinheiro novo não é difícil para a 3G, que elevou a barra da eficiência do capitalismo mundial ao adquirir e transformar empresas-ícones americanas com uma abordagem implacável de corte de custos. A gestora, que comprou o Burger King em 2010, levantou seus fundos mais recentes no fim de 2013 (para a compra da Heinz) e no fim de 2014 (
para a compra da Kraft).
Investidores que participaram destes dois últimos já receberam o principal de volta e ainda possuem, de saldo, de três a quatro vezes o capital investido.
A 3G não nomeia o alvo, mas diz que ele pertence ao setor de consumo. No mercado, a aposta é a Mondelez,
como já discutimos aqui, mas não está claro como a 3G participaria da compra, que, pela lógica, deveria ser feita pela Kraft Heinz, amplamente vista como o veículo que a 3G vai usar para consolidar a indústria de alimentos processados da mesma maneira que a InBev consolidou o setor de cervejas. (A 3G tem 24% da Kraft Heinz; a Berkshire Hathaway tem outros 27%.)
Uma outra fonte disse ao Brazil Journal que o tenista Roger Federer e a modelo Gisele Bündchen estão entre os investidores do novo fundo. Em junho deste ano, Lemann e Gisele
fizeram uma simpática aparição conjunta na ‘Brazil Conference’, evento organizado anualmente pelos alunos brasileiros de Harvard e do MIT. (
O trecho com os dois juntos aparece em 1:00:30)
A perspectiva de uma nova aquisição vem num momento em que a Kraft Heinz já concluiu a integração fabril e de sistemas e está adiantada em seu cronograma de cortes de custo.
Quando a Heinz comprou a Kraft, o CEO Bernardo Hees prometeu entregar US$ 1,5 bilhão em corte de custos (sinergias) até o fim de 2017; em setembro, ele já havia entregue US$1,3 bilhão quando se anualizam os números.
Como as oportunidades de corte de custo ficarão menos óbvias daqui para frente, a Kraft Heinz em breve terá que encontrar outro alvo gordo — com muita despesa pra cortar — se quiser continuar gerando valor exponencialmente para seus acionistas. A Kraft Heinz negocia a um prêmio de cerca de 10% sobre o múltiplo de empresas comparáveis, que negociam a 19 vezes o lucro esperado para 2017, em média.
Na semana passada, o analista Pablo Zuanic, da Susquehanna Financial Group, escreveu a clientes: “Continuamos convencidos de que a Kraft Heinz precisará fazer outra aquisição em algum momento antes de meados de 2017. Sem isso, o potencial de ganho da ação não é muito atrativo.”
O trio da 3G frequentemente repete que constrói negócios com um olhar de longo prazo, mas é claro que as circunstâncias ajudam a definir o ‘timing’.
Geraldo Samor