Dessa vez pode não ser só fumaça.

O Departamento de Saúde dos EUA quer que a maconha seja classificada como uma droga mais branda – levando as empresas de cannabis a voltarem a voar na Bolsa depois de uma correção vertiginosa.

A maconha poderá deixar de ser uma droga ‘schedule 1’ – ao lado da heroína e do ecstasy – e ser rebaixada para uma substância ‘schedule 3’, como o Tylenol e os anabolizantes.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos mudou sua visão sobre a cannabis depois de uma ampla avaliação médica e científica realizada pela Food and Drug Administration (FDA).

A análise, foi feita após uma solicitação encaminhada pela Casa Branca no ano passado.

A palavra final caberá agora à agência federal de combate às drogas, a DEA (Drug Enforcement Agency), que dará início à sua própria avaliação independente.

Se a maconha for classificada como uma droga mais leve, os principais índices das Bolsas americanas poderão listar as empresas de cannabis – o que pode ser a chave para que o setor se firmar como um investimento financeiro.

Algumas ações do setor tiveram altas expressivas logo após suas listagens anos atrás, aproveitando a liquidez do mercado e a maré favorável à maconha na opinião pública.

Mas nos últimos meses, as cotações viraram uma bad vibe.

O uso da maconha já foi liberado em grande parte dos Estados americanos, mas a droga continua proibida pela lei federal.

Apesar de vendas acima de US$ 30 bilhões ao ano, a indústria do setor não consegue ser atendida na maior parte dos serviços bancários, o que limita seu acesso a financiamento.

Desde 1970, a maconha é classificada como droga nível 1. Com o rebaixamento para a categoria 3, a cannabis seria, na prática, legalizada em nível federal – o que destravaria negócios e financiamentos.

Muitas empresas até hoje não puderam abrir o capital nos EUA; boa parte dos produtores e distribuidores da cannabis e seus derivados são listados no Canadá, onde a droga é legal.

Assim como as startups, as empresas da cannabis enfrentam restrições no acesso de capital de risco. Até ontem, quando saiu a notícia sobre a possível mudança na classificação, os papéis registravam grandes perdas.

A Canopy Growth, por exemplo, subiu mais de 30% ontem e mais 26% hoje. Mas o papel havia sido reduzido a um penny stock e ainda acumula uma perda de mais de 80% só nos últimos 12 meses.

As ações da Tilray, de produtos medicinais, avançaram 30% nos dois últimos dias, mas estão 90% abaixo de seu pico em 2018, logo após o IPO.

A história é parecida com os papéis da Curaleaf, que tiveram alta de dois dígitos nos dois últimos pregões, mas negociam hoje pela metade do valor de cinco anos atrás.

Já o ETF Alternative Harvest acumula alta de 20% após a decisão do Departamento de Saúde, mas ainda perde quase 90% nos últimos cinco anos.

No Brasil, o fundo Vitreo Cannabis Ativo tem perda de 62% nos últimos 12 meses. O Trende Cannabis, da XP, perde mais de 40% no período.

Os EUA classificam as drogas em 5 categorias, dentro de critérios estabelecidos na Lei de Substâncias Controladas sobre o potencial de dependência. Os níveis são determinados de acordo com os danos físicos e psicológicos causados pelo abuso e em relação aos possíveis usos medicinais.

A classe 1 indica alto poder de danos sem nenhum uso medicinal reconhecido. Fazem parte dessa categoria, além da cannabis, o LSD e o peiote. Já a cocaína é um ‘schedule 2,’ assim como a Ritalina.

Na categoria 3, as substâncias possuem potencial moderado de dependência física e psicológica. Estão aí os esteroides anabólicos – e, se a DEA der seu aval, a maconha.

O uso medicinal da cannabis é autorizado em 38 Estados americanos; o uso recreacional, em 23 – sendo que a maior parte deles permite a produção para consumo próprio.

Os grupos defensores da legalização da maconha festejaram a decisão dos órgãos de saúde, mas dizem que, mesmo se houver o rebaixamento para o nível 3, ainda faltará muito a ser feito para dar fim à insegurança jurídica.

O CEO da National Cannabis Industry Association, Aaron Smith, disse à Bloomberg que ainda haverá muita dissonância entre as regras locais e as federais.

“A única maneira de resolver a miríade de questões que existem por causa desse conflito é remover a cannabis da Lei de Substâncias Controladas e regular o produto de maneira similar ao álcool,” disse Smith.