Num movimento ousado, a Energisa fez uma oferta hostil pelo controle da Eletropaulo, avaliando a companhia em R$ 3,24 bilhões e acelerando uma definição sobre o futuro da distribuidora paulista, um jogo de xadrez que se arrasta há meses.
O preço oferecido, de R$ 19,38 por ação, embute um prêmio de apenas 0,67% em relação à cotação de fechamento de quinta-feira –– quando o papel ‘antecipou’ o movimento e subiu quase 5%. Desde o começo do ano, a ação da Eletropaulo está em alta de 18%.
“O preço de tela já seria uma boa oferta, depois de tudo que o papel andou”, diz uma fonte que acompanha o processo.
Se sua oferta for vitoriosa, a Energisa se comprometeu a injetar mais R$ 1 bilhão na Eletropaulo, que precisa dos recursos para quitar uma dívida com a Eletrobras.
O movimento da Energisa vem num momento em que a Eletropaulo preparava uma oferta de ações para dar saída à AES Corp. e levantar cerca de R$ 1,5 bilhão para seu caixa.
Nas últimas semanas, vários investidores estudavam entrar como âncora na oferta. A Enel, por exemplo, chegou a apresentar uma proposta formal ao conselho da Eletropaulo para ancorar a transação. Outras interessadas incluem a CPFL, controlada pelos chineses da State Grid, a Neoenergia e a GP Investments.
O lance da Energisa pode acelerar o surgimento de ofertas concorrentes por toda a companhia, mas há, no mercado, um certo ceticismo de que elas existam.
A CPFL teria musculatura financeira para entrar no jogo, o que reeditaria o embate pelo Grupo Rede. (Em 2013, a CPFL era a favorita para levar as oito distribuidoras do grupo, mas foi atravessada por uma oferta mais alta da Energisa, que tinha um quinto de seu tamanho).
No entanto, os chineses da State Grid estariam desencorajados por uma decisão da CVM na oferta pública pela CPFL Renováveis. Numa decisão inédita – e questionada pelo mercado – a CVM determinou que a State Grid ofereça um novo preço aos minoritários que aumentará em no mínimo R$ 1 bilhão o valor de aquisição da companhia. “Depos disso, é muito pouco provável que eles decidam fazer o caminho de uma OPA pela Eletropaulo”, diz uma fonte próxima à companhia.
A Energisa está disposta a comprar toda a Eletropaulo, mas sua oferta vai adiante apenas se obtiver a adesão de acionistas detentores de 50,1% do capital, caracterizando o controle. O leilão está marcado para 7 de maio.
O Citigroup, que assessora a Energisa, garantiu uma linha de crédito de um ano para que a companhia financie a aquisição. Para quitar este empréstimo ponte, a Energisa pretende emitir novas ações dentro de um ano.
Uma reestruturação acionária feita em novembro deu espaço para que a Eletropaulo se tornasse alvo de uma oferta hostil.
Já preparando a cama para a saída da AES, a Eletropaulo migrou para o Novo Mercado e converteu todas as suas ações em ordinárias, tornando-se uma ‘corporation’. O BNDES ficou com 18,73% do capital, a AES com 16,84%, e a União tem outros 8%.
A maior parte do capital, 54,6%, está em circulação no mercado; a gestora GWI é a maior acionista do float, com 6,9% do capital.
A Energisa é controlada pela Gipar, da família Botelho, e tem 11 distribuidoras de energia.
Esta não é a primeira vez que os Botelho fazem uma oferta não solicitada por uma companhia. Em 1978, a Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina, que deu origem à atual Energisa, tentou comprar a Cia. Mineira de Eletricidade, uma empresa de controle familiar listada no que era então a Bolsa do Rio.
Mas uma regra esdrúxula do leilão – que só permitia que o comprador aumentasse seu lance duas vezes – fez o alvo cair nas mãos de outra empresa, a Cemig.