SÃO JOSÉ DOS CAMPOS — A Embraer disse que suas vendas estão com ‘momentum’, com uma demanda crescente pelos aviões comerciais da família E-Jets e os cargueiros militares C-390.
O CEO Francisco Gomes Neto também falou sobre o desenvolvimento de um avião narrow-body, um movimento que seria um marco histórico para a companhia, mas que, segundo ele, ainda está em fase preliminar.
“Em termos de capacidades técnicas já estamos preparados [para fazer um avião narrow-body],” disse o CEO. “Mas não temos planos concretos ainda. Já começamos os estudos, mas não é algo para o curto prazo. Agora estamos focados em vender o que temos para ser uma empresa de R$ 10 bi de receita, o que vai melhorar nossa performance, gerar mais caixa e deixar a gente mais preparado para novos movimentos.”
As declarações foram feitas durante um evento com jornalistas agora pela manhã na sede da empresa, em São José dos Campos.
O CEO disse que a demanda pelos E2 da companhia tem sido beneficiada pelo fato de os aviões narrow-body dos concorrentes estarem sold out pelos próximos anos. “Nossos aviões são um ótimo complemento para as grandes companhias aéreas,” disse ele.
No final do primeiro tri, o backlog da Embraer — que inclui as quatro verticais da companhia (comercial, executivo, defesa e serviços) — bateu R$ 21,1 bilhões, o maior nível dos últimos cinco anos. Para o CEO, isso vai “ajudar a entregar nossa meta para 2030.”
Uma vertical que deve contribuir com o crescimento, segundo o CEO, é a de serviços e suportes, que hoje faz uma receita de R$ 1,5 bilhão por ano e que a Embraer espera que dobre nos próximos três a quatro anos para mais de R$ 3 bilhões. A companhia tem feito altos investimentos para aumentar a capacidade dessa vertical em mercados como os Estados Unidos.
Francisco também explicou o plano da companhia para linearizar a produção de suas fábricas, o que deve ajudar a resolver um problema grande da indústria nos últimos anos: o atraso nas entregas de aeronaves.
Segundo o CEO, a Embraer tem “trabalhado muito forte” nesse plano desde o final do ano passado e espera que as melhoras nos resultados apareçam de forma mais acentuada a partir de 2025.
“Temos sofrido pelos gargalos no supply chain e com o ramp up da produção, o que tem levado a uma concentração das entregas no final dos trimestres e especialmente no segundo semestre do ano,” disse o CEO.
No ano passado, 70% das entregas de aeronaves foram feitas no segundo semestre; neste ano, a expectativa é que dois terços sejam feitos neste período, com uma melhora marginal.
No médio prazo, no entanto, a meta da Embraer com o plano de linearidade da produção é que as entregas sejam bem divididas ao longo do ano, com 25% em cada trimestre.
Esse plano é especialmente importante dado o aumento expressivo na produção total da Embraer nos últimos anos. Em 2023, a produção cresceu mais de 30% e, este ano, mais 18%. “E queremos continuar aumentando, o que é um grande desafio de supply chain e recursos internos,” disse o CEO. “Queremos executar melhor nossos planos de produção e passar a ter um plano de produção semanal e não mais trimestral.”
Para ele, essa mudança na produção vai ser um “game changer” para a Embraer em termos de melhora operacional e financeira.
A estratégia vem depois da Embraer executar um turnaround robusto em sua operação, saindo de uma alavancagem de 20,7x EBITDA em 2020 — no auge da pandemia — para 1,8x hoje, com a redução de R$ 1,2 bi da dívida líquida. Hoje, a dívida líquida da Embraer é de R$ 1 bilhão e o objetivo é fechar o ano em R$ 600 milhões.
O CFO Antonio Carlos Garcia disse que a meta é chegar a uma posição de caixa líquido no final de 2025.
O CFO também notou que a Embraer já atingiu nos últimos doze meses terminados em março os mesmos níveis de receita de 2019, quando a companhia fez R$ 5,4 bi de top line. A meta é fechar este ano com R$ 6 bi a R$ 6,4 bi de receita.
O EBIT também melhorou de forma expressiva, saindo de 2,7% negativos para 8,7% no período. Na margem EBITDA, também houve uma melhora, com a Embraer se aproximando da margem do melhor player do setor, que opera com 12,4% de margem EBITDA, em comparação aos 10,4% da Embraer.
“Poucas companhias se beneficiam como a gente da sinergia de ter várias operações – comercial, defesa, executivo, EVTOLs… Deveríamos ter um prêmio por isso, e não um desconto,” disse o CFO.
A Embraer negocia hoje a cerca de 8x EV/EBITDA em comparação a uma média de 10-12x do setor. A ação sobe 171% desde janeiro do ano passado.
“No passado, nossa ação estava muito barata. Agora, ela está só barata, disse o CFO. “Ainda temos muito espaço para crescer conforme nosso bottom line for melhorando.”