Anderson Birman já teve de tudo: barco, helicóptero, “e o poder que aquele tipo de diversão me trazia,” ele diz em sua autobiografia, que está sendo lançada hoje. 

Mas com o tempo, aquilo foi perdendo a graça, e hoje o fundador da Arezzo&Co pensa diferente.

Anderson Birman“Nada disso me empolga mais. Olhando para trás, vejo que existia um ponto ótimo de patrimônio que me permitia viver em tranquilidade, preservando a saúde e as relações pessoais verdadeiras, coisas aparentemente simples que hoje me custam mais caro do que um dia imaginaria. Se eu tivesse 25% do dinheiro que acumulei, já seria o bastante.”

Essa reflexão foi feita à jornalista Ariane Abdallah nas mais de 100 conversas que teve com Anderson ao longo de quatro anos. 

A Cada Passo traz o primeiro registro público da trajetória de um dos maiores empreendedores do Brasil — um self-made man que começou literalmente do zero e criou uma gigante da moda com um valor de mercado de mais de R$ 6,6 bilhões na Bolsa.

No livro, Anderson relembra sua trajetória em detalhes inéditos e faz reflexões íntimas sobre, como diz Caetano Veloso, “a dor e delícia de ser o que é.”  Em maio deste ano, o empresário disse que foi diagnosticado com  Parkinson.

“Embora eu sofra as consequências físicas e emocionais do parkinsonismo, acredito que existe uma razão para eu passar por isso,” Anderson escreve. “Conviver com essa doença, por mais doloroso que seja, não é um castigo, mas, sim, uma forma de enxergar aspectos em que sem ela eu, provavelmente, não prestaria atenção.”  

A honestidade brutal é uma marca do livro. 

“Muitas vezes eu fazia uma pergunta e esperava uma resposta protocolar,” disse Ariane. “Mas ele falava tudo com muita sinceridade.”

Quando perguntado sobre o que o motivou a criar a Arezzo, Anderson foi curto: “Eu queria ficar rico.”

Parte dessa sinceridade tem a ver com o fato de que Anderson não pretendia transformar as conversas com Ariane em livro. No começo, a ideia era apenas ter um registro particular de sua história e de sua visão sobre temas como a fé e a riqueza. 

“Acho que ele estava mais interessado no processo do que no resultado final,” disse a jornalista. “Ele queria conversar, se lembrar da vida dele e contar e perenizar essa história.”

O que fez o empresário mudar de ideia foi uma conversa com o diretor criativo da Arezzo, Giovanni Bianco, seu amigo de longa data. 

“O Giovanni insistiu que eu deveria compartilhar minha experiência e aprendizados com outras pessoas e sugeriu reverter todo o valor das vendas para alguma causa social,” Anderson disse ao Brazil Journal. “Isso fez todo sentido para mim.”

Os recursos da venda vão para a Casa Transitória, uma instituição espírita que o empresário frequenta há anos em São Paulo.

Ariane está acostumada a entrevistar empresários. Seu Atelier de Conteúdo produz livros e outros materiais para empresas como a Vivo, LinkedIn e o Boston Consulting Group. 

Mas, segundo ela, o trabalho com Anderson foi diferente.

“Sempre que fazemos esse trabalho a pessoa já tem claro o que quer com aquilo, então o cérebro faz um filtro natural do que ele quer contar para o mundo, pensando no que os outros vão pensar,” disse ela. “No caso do Anderson, não foi assim. As conversas não tinham prazo nem objetivo, então elas foram muito mais espontâneas, o que deu mais riqueza ao material.”

Para ela, uma das coisas que mais chama a atenção na história de Anderson é “a confiança que ele tem na sua intuição.”

Como quase todo empreendedor sabe, intuição é tudo — e a de Anderson foi fundamental para guiá-lo em decisões estratégicas para suas marcas e na escolha de produtos. Um exemplo recente foi a compra da Reserva. 

“Foi partindo de uma sensação de que daria certo que eu orientei o Alexandre na direção de fechar o negócio,” diz um trecho do livro. “Mas, claro, só fomos em frente porque havia respaldo racional, a partir de estudos estratégicos dos negócios.”

Anderson disse que o fato mais marcante de sua vida foi passar o bastão para Alexandre, dez anos atrás. Naquele momento, “ficou claro para mim que todo esforço valeu a pena, que o negócio deu certo e não dependia mais do fundador.”

O evento de lançamento será hoje às 17h na Livraria Travessa, do Shopping Iguatemi.