O novo Plano Estratégico da Petrobras soou como música para o mercado — com a estatal sinalizando que está comprometida em gerar retorno aos acionistas, a despeito dos ruídos frequentes que vem do Planalto.
A empresa ajustou sua política de dividendos e prometeu distribuir entre US$ 60-US$ 70 bilhões ao longo dos próximos cinco anos (R$ 400 bilhões ao câmbio de hoje).
O plano é fazer pagamentos trimestrais, e a empresa fixou um valor mínimo anual de US$ 4 bilhões — desde que o preço médio do Brent esteja acima de US$ 40.
A ação da Petrobras fechou em alta de 4,5% — num dia em que praticamente tudo subiu.
“Os dividendos são um aspecto importante para a percepção do valor da Petrobras,” o BTG Pactual disse num relatório. “Não apenas por serem, obviamente, parte importante do cálculo do retorno ao acionista, mas porque eles indicam o quanto a Petrobras está disposta a equilibrar crescimento e retorno.”
O JP Morgan notou que o valor que a empresa pretende pagar nos próximos cinco anos é próximo ao seu market cap atual (US$ 67 bi).
Esse é o primeiro plano estratégico apresentado pelo general Joaquim Silva e Luna desde que assumiu o comando da Petrobras em abril.
“É bom ver que a estratégia da empresa não mudou. O plano foca no pré-sal e num portfólio estratégico. Essa é uma estratégia muito amigável com o mercado e de criação de valor”, disseram os analistas do JP Morgan.
Quando Silva e Luna foi indicado presidente da Petrobras, muita gente torceu o nariz. Disseram que o general não era do ramo e que provavelmente se tornaria um pau mandado do Planalto.
Sete meses depois, até os críticos reconhecem que o general está acertando mais do que errando, principalmente na comunicação — num momento em que a alta dos combustíveis está impactando cada vez mais a vida das pessoas.
A Petrobras tem se esforçado para explicar ao contribuinte, aos acionistas e aos consumidores a mecânica que determina o preço dos combustíveis.
“O Silva e Luna falou na apresentação do plano que, entre dividendos e tributos, a Petrobras distribui 86% da geração operacional. Dado que tributos é várias vezes a distribuição de dividendos, o maior perdedor de uma redução artificial dos preços é a própria União,” diz um gestor.
“Isso nunca foi dito, que eu me lembre. Os malvadões da Petrobras sempre foram os acionistas e o lucro da empresa,” disse ele.
Para esse gestor, o general “está mostrando como funciona a empresa, como são formados os preços dos derivados, e qual a importância de se manter a paridade internacional.”
No horizonte do Plano Estratégico, entre tributos (US$65-70 bi) e dividendos (US$20-25 bi), a União deve receber entre US$85-95 bi. Os demais acionistas devem ficar com US$35-US$44 bi.
Em outras palavras, a União vai receber mais que o dobro do que o acionista.
Todas essas informações sempre foram públicas, mas a empresa nunca fez essa “campanha” para mostrar quanto a “sociedade está recebendo” da Petrobras.
A Petrobras também tem feito inserções na TV em que mostra quanto recebe por cada litro de gasolina vendido nos postos, quanto fica com os distribuidores e quanto vai para tributos.
Outro gestor disse que, cada vez mais, está colando o discurso de que a política social deve ser feita com os dividendos pagos pela Petrobras, e não às custas da empresa.
A avaliação do buyside é que a Petrobras é uma pechincha, apesar do risco político.
Hoje, a empresa negocia a 2,6x o EBITDA dos próximos 12 meses, abaixo das petroleiras internacionais. A Exxon negocia a 5,6x; a BP, a 3,8x; a Chevron, a 5,6x; e a Shell, a 3,8x.
Os múltiplos estão baixos de modo geral por conta da alta do petróleo, que jogou o EBITDA para cima.
O plano estratégico trouxe um capex de US$ 68 bilhões em cinco anos, com um aumento de 24% em relação ao plano anterior, mas que já era esperado pelos analistas. Além disso, a curva de produção da empresa para os próximos dois anos ficou aquém do esperado.
Mas nada disso ofuscou o brilho dos dividendos.