A situação dramática do Banco Espirito Santo (BES) tem consequências para uma empresa de mídia com operações no Brasil e laços umbilicais com o grupo político do ex-deputado José Dirceu.

A Ongoing — que nasceu com o apoio do BES e que no Brasil publica os jornais O Dia e Brasil Econômico — tem 10% do capital da Portugal Telecom por meio da RS Holding SGPS. Os administradores da RS Holding, Nuno Vasconcellos e Rafael Mora, são respectivamente o presidente e o vice do conselho de administração da Ongoing, além de membros do conselho da PT.

O site da Ongoing diz que a empresa tem duas “participações estratégicas”: uma é a própria PT; a outra, o “Espirito Santo Finantial Group” — a palavra “financial” está escrita errada, e o link para a explicação do investimento está desativado. Agora há pouco, a “participação estratégica” no Espirito Santo foi removida do site, mas pode ser vista na foto abaixo.

Assim como fez com o BES, ao comprar 900 milhões de euros em títulos de dívida que agora podem virar pó, a PT já ajudou a Ongoing — e causou escândalo.

De acordo com um perfil da Ongoing publicado há dois anos pelo jornal português Público, numa reunião do conselho da PT em julho de 2009, o representante da Caixa Geral de Depósitos (banco português também acionista da empresa de telecom), questionou “por que razão o fundo de pensões da PT aplicara, por ordem do gestor Soares Carneiro, 75 milhões de euros em fundos de alto risco da Ongoing sem ouvir o Comitê de Investimentos.”

De acordo com o jornal, a reclamação da CGD “agitou os bastidores da PT e a controvérsia só terminou com a saída de Soares Carneiro para a Ongoing em São Paulo.”

Meses depois, ainda segundo o jornal, o presidente da PT, Henrique Granadeiro, descreveu o episódio assim: “Fui encornado!”

Na época, a Ongoing negou, em comunicado à imprensa, que a PT a tivesse financiado de forma direta ou indireta.

A Ongoing entrou no Brasil em fins de 2009, quando lançou o Brasil Econômico para concorrer com o Valor. Em 2010, pagou 75 milhões de reais pela Ejesa, que edita os jornais O Dia e Meia Hora.

O controle da Ejesa está 70,1% nas mãos de Maria Alexandra de Almeida Vasconcellos, mulher de Nuno Vasconcellos, que detém os outros 29,9%. Instado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), o Ministério Público abriu investigação em 2010 para apurar se a compra da Ejesa burlava a Constituição, que limita em 30% a participação estrangeira em jornais.

A Ejesa alegou que Nuno e Alexandra Vasconcellos são casados em separação de bens, e que Alexandra tem cidadania brasileira.

Em 2010, a repórter Elvira Lobato, da Folha de São Paulo, entrevistou empresários, executivos e políticos no Brasil e em Portugal e escreveu, sobre a Ongoing: “As informações sugerem que o grupo foi estimulado por membros do PT a implantar no país uma rede de comunicação alinhada com o governo que diminuísse o poder dos grandes grupos privados. O principal interlocutor do grupo com o governo é o ex-ministro e ex-deputado federal (cassado no escândalo do mensalão) José Dirceu, colunista do Brasil Econômico. A namorada dele, Evanise Santos, é diretora de marketing institucional da Ejesa.”

Na época, a Ejesa disse à Folha, por email, que era “um grupo independente”, sem conexão com o governo ou partidos políticos. Evanise Santos, agora ex-namorada de Dirceu, disse que foi funcionária do cerimonial do governo FHC e que foi contratada por sua experiência.

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