Com a XP no pico de seu valor de mercado — valendo R$ 140 bilhões no câmbio de hoje — a ação do Itaú subiu quase 4% nesta quinta-feira depois que o BTG Pactual apontou que a Casa de Setúbal ficou barata numa métrica de soma das partes.

O objetivo do relatório do BTG era questionar se o rali da XP não deveria se refletir no valuation do Itaú. 

“Ainda que sejamos normalmente céticos em relação a abordagem de soma das partes, neste caso ela parece justa dado que a XP é realmente independente e o mercado usa a soma das partes para analisar o Softbank e sua participação Alibaba, por exemplo,” escreveu o analista Eduardo Rosman. “Além disso, a relevância da XP tornou-se grande demais para ignorar.”  

No preço atual, a XP já vale 21% mais que o Santander Brasil e cerca de metade do valor do Itaú, que é dono de 46% da Casa de Benchimol. (O banco ainda tem uma opção para comprar mais 12,5% do capital da XP em 2022 a um múltiplo pré-negociado de 19 vezes o lucro do ano anterior). 

Excluindo o valor de sua participação na XP, nas contas de Rosman o Itaú negocia hoje a um múltiplo de 7,1 vezes o lucro do ano passado (já que o deste ano é impossível de prever). Trata-se de um pequeno desconto em relação a Bradesco (7,7x) e Santander (8,3x).

O relatório chama a atenção para o que muitos gestores dizem há meses ser evidência de que os bancos em geral — e o Itaú em particular — são o setor mais largado da Bolsa neste momento. 

Não é que os múltiplos malnutridos do setor não tenham explicação. Boa parte da Faria Lima e do Leblon está comprada no setor financeiro, mas teme uma cascata contínua de provisões ao longo do ano na medida em que as consequências da quarentena sobre a economia se manifestarem por completo.

Mas ainda que a análise do BTG tenha temporariamente injetado Red Bull na ação do Itaú, o maior beneficiário desse tipo de comparação talvez seja o próprio BTG, cuja ação decolou mais de 9% e fechou em seu maior nível desde o início da covid.

Ainda que o BTG também esteja exposto ao risco de inadimplência, como os bancões, seu negócio de crédito responde por apenas 15% da receita. Além disso, a carteira do banco costuma ser fortemente colateralizada e a concessão de crédito, seletiva. 

O arroz com feijão da operação continua sendo a área de sales and trading, onde o banco usa seu balanço para prestar serviços de intermediação financeira como hedges, estruturação de derivativos, serviços de market making e distribuição de títulos. Tipicamente responsável por 30% da receita, esta área se beneficia diretamente da atual liquidez dos mercados.

Hoje, a XP vale mais de dois BTGs, mas no ano passado lucrou um quarto de seu resultado. 

A XP fechou hoje a US$ 48,80 — alta de 3,9%.