Depois de encerrar o seu primeiro ciclo de investimentos, a Itaúsa quer focar os próximos anos na maturação de suas investidas e na redução do seu endividamento.

A holding também pretende fazer uma gestão mais ativa do portfólio, eventualmente reduzindo ou aumentando sua participação em determinadas empresas.

Essa visão estratégica foi detalhada ontem durante o Panorama Itaúsa 2023, o evento anual que a empresa realiza há mais de 20 anos com seus acionistas e investidores.

O CEO Alfredo Setubal disse que a Itaúsa investiu mais de R$ 10 bilhões na última década para montar seu portfólio atual — que inclui sete empresas em setores essenciais da economia.

O Itaú Unibanco é o maior banco da América Latina; a CCR é uma gigante da infraestrutura que opera de rodovias a aeroportos; e a Dexco é dona de marcas líderes da construção civil como Deca, Hydra e Portinari. Já a Aegea opera concessões importantes de saneamento, enquanto a Alpargatas calça dez em cada dez brasileiros. Há ainda a Copa Energia e a NTS, que levam gás para a casa de milhões de pessoas.

A construção desse portfólio naturalmente elevou a dívida bruta da holding, que chegou a bater em R$ 8,4 bilhões em setembro do ano passado. Desde então, a Itaúsa já reduziu esse montante para cerca de R$ 5 bilhões, em grande parte com a venda de ações da XP. A companhia tem hoje um rating de crédito ‘triple A’ pelas três principais agências (S&P, Moody’s e Fitch).

Alfredo disse que o plano é se desfazer das ações remanescentes da corretora e usar os recursos para reduzir ainda mais esse endividamento.

“Pagamos hoje mais de R$ 1 bilhão de custos da dívida por ano. É um valor muito alto para uma holding como a Itaúsa, cuja receita vem só dos dividendos das investidas,” disse o CEO. “Temos que trazer a dívida para um patamar mais adequado.”

Depois de equacionar a dívida, a Itaúsa pretende fazer uma gestão mais ativa do portfólio, e continua buscando oportunidades. “Mas agora está mais difícil achar algo interessante, porque com os juros altos é mais difícil conseguir os retornos adequados,” disse Alfredo.

O CEO também falou sobre os dividendos da holding — um dos grandes atrativos da Itaúsa para seus mais de 1 milhão de investidores pessoa física. Segundo ele, “estamos no vale dos dividendos, com um dividendo menor que o esperado porque nossas empresas estão num ciclo de investimento.”

“Mas passado esse ciclo e reduzindo a alavancagem, os dividendos virão,” disse ele.

A Itaúsa gerou muito valor para os acionistas ao longo dos anos: o total shareholder return (a soma dos dividendos mais a valorização das ações) nos últimos dez anos foi de 219%, em comparação a um Ibovespa de 123% e um CDI de 140%.

Os investimentos recentes também têm rendido bons frutos. A NTS deu um total shareholder return de 397% desde a aquisição em 2017; a Copa Energia, de 174% desde o investimento em 2020.

ESG na holding

A Itaúsa também aproveitou o evento para detalhar sua estratégia ESG, que vai ganhar ainda mais relevância agora com a criação do Instituto Itaúsa.

Segundo Alfredo, o Instituto deve atuar em dois eixos principais: conservação do meio ambiente e produtividade & sustentabilidade. “Acho que o Instituto vai contribuir muito nisso. Não só nas investidas, mas na transição econômica que temos que ajudar o Brasil a fazer.”

Marcelo Furtado, o head de sustentabilidade da Itaúsa, disse que a ideia da companhia é buscar sinergias no portfólio e trabalhar em cooperação com as investidas.

“Brincamos que nossa ideia é fazer 1 mais 1 dar 11,” disse ele. “Temos empresas líderes e que atuam em setores que são chave para a transição energética.”

O plano da Itaúsa é investir R$ 10 milhões no Instituto ainda este ano e outros R$ 50 milhões no ano que vem.

“Mas o que vai fazer a diferença é juntar os esforços,” disse Alfredo. “O Instituto não tem a pretensão de sozinho fazer tudo o que precisa. Estamos com uma agenda de parcerias para maximizar os recursos. Quando você junta esforços, você tem resultados muito maiores e mais rápidos.”

A estratégia ESG da Itaúsa é dividida em três pilares: o impacto pela holding, que agora será centrado no Instituto; o impacto pelo portfólio, por meio da influência nas investidas; e a governança.

No primeiro pilar, a Itaúsa já está desenvolvendo um inventário de carbono, aderiu recentemente ao Pacto Global, incluiu o ESG em sua matriz de risco e começou a comprar energia renovável para todo o edifício sede da empresa. Além disso, está fazendo capacitações para seus colaboradores sobre sustentabilidade.

No segundo pilar, a companhia disse que está desenvolvendo indicadores e métricas ESG para o monitoramento do portfólio atual e para a avaliação de novos investimentos.

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ESG nas investidas

No Panorama Itaúsa, os CEOs de algumas das empresas do portfólio também compartilharam suas agendas ESG.

Milton Maluhy disse que o Itaú já neutraliza todas suas emissões de escopo 1 e 2 (aquelas que são próprias) e assinou recentemente o net-zero banking alliance, comprometendo-se a neutralizar todas as emissões de escopo 3 (de clientes e fornecedores) até 2050.

Na Dexco, a companhia vem investindo em celulose solúvel com uma fábrica no Triângulo Mineiro — fruto de uma joint venture com a Lenzing —, que já atingiu sua capacidade de produção.

Radamés Casseb, da Aegea, explicou como a empresa tem dado acessibilidade a serviços básicos como água e esgoto com tarifas sociais — que dão descontos de até 70% para mais de 2 milhões de pessoas. (No Rio, 26% da população na área de concessão da Aegea usa a tarifa social). A despoluição de praias e o reflorestamento de cabeceiras de mananciais também fazem parte da agenda da companhia.

Na Copa Energia, foram criados programas de combate à pobreza energética.

Já Miguel Setas disse que a CCR está trabalhando sua agenda ESG em cinco dimensões: a descarbonização, essencial no setor de transportes, responsável por 15% das emissões globais; a preservação do meio ambiente; diversidade e inclusão; a sustentabilidade de sua cadeia de fornecedores; e o fortalecimento de sua governança.

O CEO também disse que a CCR está trabalhando para aumentar sua geração renovável com a instalação de parques solares e eólicos no entorno de suas rodovias, bem como num projeto de trens movidos a hidrogênio verde.

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