A Warren Rena divulgou suas projeções para as contas da União em 3 de maio. Foi o primeiro relatório após o envio da proposta para a nova regra fiscal (PLP n° 93/2023) ao Congresso Nacional.

A partir da leitura, nossos clientes levantaram questões a respeito de nossas conclusões, algo normal. Houve também comparações com outras análises feitas por especialistas. Uma das análises citadas foi a desenvolvida inicialmente por Marcos Lisboa e coautores em texto para discussão do Insper e em versão menor neste Brazil Journal.

Em razão disso, decidimos enviar uma nota para nossos clientes explicando as diferenças entre os cenários produzidos pela Warren Rena e os traçados por Lisboa et al. Ao mesmo tempo, enviamos uma cópia dessa análise para o economista Marcos Lisboa, assim como já havíamos feito com nosso relatório fiscal acima referido.

A nota compara hipóteses adotadas em nossas projeções com as do texto para discussão, a exemplo da regra para a correção do salário mínimo, do reajuste da remuneração dos servidores e do pagamento dos precatórios. Simulamos também nossas projeções do cenário base com hipóteses distintas, o que mostrou trajetórias mais restritivas, de fato, para as discricionárias, em linha com o alerta do texto para discussão do Insper.

A motivação para a comparação foi explicar aos clientes, a quem divulgamos prioritariamente nossas análises, as diferenças entre as abordagens. Em nenhum momento criticamos o referido texto para discussão, afirmando, por exemplo, que seria “excessivamente pessimista”, nem dissemos que havia “espaço confortável para as despesas discricionárias” em nossas projeções, como dito no artigo publicado em 8 de maio neste espaço.

Concordamos que não será possível cumprir as metas de resultado primário propostas pelo governo sem expressivo aumento de receita. Temos dito isso desde que o Ministério da Fazenda realizou coletiva à imprensa, semanas antes de enviar a proposta formal ao Congresso. Como tal montante de receita não é certo, não o incluímos em nosso cenário base, o que nos fez projetar déficit primário próximo de 1% do PIB para os próximos anos.

Ademais, acreditamos que é possível cumprir a regra para o aumento da despesa contida no PLP nº 93/2023, respeitando-se as restrições relativas aos mínimos constitucionais da Saúde e da Educação, desde que as despesas obrigatórias sejam mantidas sob relativo controle, como discutido em nossa análise. A opção pela concessão de aumento real para o salário mínimo de acordo com a variação do PIB, certamente, não ajuda nesse sentido. A trajetória para a dívida pública também não indica estabilização evidente no período considerado, embora deva ser melhor do que na ausência da regra.

Por fim, mesmo a Warren Rena sendo uma empresa privada, o que restringe o amplo acesso a suas informações internas, nos colocamos à disposição para discutir pressupostos e outros aspectos de nossa metodologia de projeção. Cremos que o procedimento é suficiente para termos um debate construtivo.

Esse é o nosso convite.

Felipe Salto é economista-chefe e sócio da Warren Rena, foi Secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo e o primeiro diretor-executivo da IFI.

Josué Pellegrini é doutor em economia pela USP, economista da Warren Rena, foi consultor legislativo do Senado Federal e diretor da IFI.