A Cosan acaba de vender a maior parte de sua posição na Vale, um movimento que fará a empresa reconhecer uma perda – compensada por uma redução imediata de até 40% de sua dívida líquida.
Num block trade agora há pouco, via corretora JP Morgan, a companhia vendeu cerca de 4,1% do capital da Vale, levantando R$ 9 bilhões. A venda permitirá à Cosan reduzir sua dívida líquida de R$ 22 bi para R$ 13 bi.
A ação da Cosan chegou a subir 9% na abertura, quando o leilão foi anunciado, e agora sobe 4%.
Há cerca de uma semana, a Cosan sinalizou a bancos próximos que tinha interesse em fazer a transação no curto prazo. Ontem à noite, pediu propostas a três bancos – JP Morgan, BofA e Itaú.
O JP Morgan garantiu a venda ao menor desconto dos três, de 3,75% sobre o preço de fechamento de ontem. Como é praxe neste tipo de operação, se a venda saísse a um desconto menor, o banco dividiria o ganho adicional com a empresa. Foi o que aconteceu.
O leilão saiu a R$ 52,29, com um desconto de 0,59% sobre o fechamento de ontem.
A Cosan montou uma posição de 6,5% na Vale em outubro de 2022 por meio de derivativos e da compra do papel à vista – mas entre o final de 2023 e abril de 2024, a companhia já havia desfeito o collar spread que lhe dava exposição econômica ao papel, reduzindo sua posição para os cerca de 4,1% que vendeu agora.
De lá para cá, a Vale mudou sua gestão e refez seu conselho, e a Cosan influiu como um acionista de referência. Mas o processo também foi marcado por inúmeras declarações do Presidente Lula de que queria ele mesmo influir na Vale – incluindo gestões para que o ex-Ministro Guido Mantega fosse o CEO. (O ruído se dissipou depois que Gustavo Pimenta foi eleito unanimemente pelo board.)
Dado o prejuízo que a Cosan terá que reconhecer, a decisão de vender a Vale foi difícil – mas extremamente pragmática.
Apesar de Rubens Ometto gostar do novo management da Vale e dos avanços recentes na empresa – como o acordo de Mariana – Rubens preferiu zerar a exposição do que apostar que a performance da ação da Vale em 2025 superaria o custo da dívida que a Cosan carregava para manter a posição.
“Essa não foi uma decisão fácil, porque a Vale é uma grande empresa e muito provavelmente seu valor na Bolsa não reflete o seu potencial nem de longe. Mas esse movimento é o certo a se fazer para o acionista da Cosan, dado o custo da dívida no Brasil de hoje,” Rubens disse ao Brazil Journal.
A saída da Vale é o primeiro grande movimento do CEO Marcelo Martins para endereçar a estrutura de capital da empresa, que tem dragado o valor de mercado da Cosan.
O papel da companhia fechou ontem a R$ 8,58, perto do nível mais baixo em pelo menos cinco anos. A Cosan agora vale R$ 16 bilhões na Bolsa.
Desde que Rubens trocou o comando da holding em outubro, Martins e Nelson Gomes – o novo CEO da Raízen – têm focado no turnaround da distribuidora de combustíveis, que, além da posição na Vale, tem sido o outro grande detrator de valor para a companhia.
A ação da Raízen fechou ontem em sua mínima histórica, com a companhia valendo apenas R$ 21,5 bi e carregando R$ 31 bi de dívida líquida.