Desde que estreou na Nasdaq há pouco mais de um mês, a Afya tem se mostrado uma ação hiperbólica. 

 

No primeiro dia de negociação, seus papéis subiram 27% e acumulavam alta de 70% desde então.  Mas na sexta-feira, mergulharam 30% numa só tacada após o balanço do segundo trimestre sair abaixo do esperado. 

O EBITDA da holding de faculdades médicas ficou 20% abaixo do consenso e a receita veio 7% menor que o esperado, no primeiro resultado divulgado após o IPO.

Ao que tudo indica, analistas e investidores — além do time de RI da companhia — terão bastante lição de casa à frente: a frustração tem mais a ver com a dificuldade do mercado de fazer as projeções do que com o resultado em si. 

Como a Afya ainda não tem um histórico de resultados como empresa pública e vem crescendo à base de M&As, a verdade é que ninguém ainda sabe muito bem como modelar a companhia. 

As principais dúvidas na teleconferência foram em relação à forma como a Afya reporta os resultados e a sazonalidade do negócio. 

Apesar de ter o foco em medicina, cada um dos três segmentos em que a Afya atua tem uma dinâmica própria: o business de graduação; a Medcel, de cursos preparatórios à distância para a residência médica; e a IPEMED, voltada para especializações depois da residência. 

Na Medcel, por exemplo, as novas vendas são concentradas no primeiro e no quarto trimestres, e mais de 90% da receita é reconhecida exatamente nesses trimestres, que é quando acontece a entrega das apostilas. 

Os analistas de bancos sugerem que o desastre de sexta-feira pode ser um bom ponto de compra.

“Continuamos animados com o case e destacamos que nossa confiança é mais alta em nossas projeções anuais que nas trimestrais”, disse em relatório a equipe do JP Morgan (que, vale dizer, não fez parte do sindicato do IPO). 

Apesar de reconhecer que o resultado “não foi brilhante”, o Morgan Stanley também reforçou a confiança nas projeções para o ano: até agora, a Afya já entregou 48% do EBITDA e 46% do lucro previsto pelo banco para 2019. 

Hoje não há pregão nos Estados Unidos por conta do feriado do Labor Day.  A liquidez do papel é relativamente baixa, o que ajuda a explicar movimentos mais bruscos como o de sexta-feira. 

“Muita gente ficou de fora exatamente para tentar entender melhor o negócio”, diz o analista de uma grande gestora local. “O potencial do segmento é imenso, mas ninguém sabe direito qual a dinâmica de custos e como eles podem se comportar mais para a frente”. 

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