A Mahle Metal Leve está caindo 14% hoje depois que a fabricante de componentes de motores e filtros automotivos disse que contratou o Itaú BBA e o Citi para uma potencial oferta de ações.

O mercado está apostando numa oferta secundária: a venda de uma fatia na empresa pelo controlador, o grupo alemão Mahle, que hoje concentra 70% da Metal Leve, aproveitando a forte performance do papel nos últimos meses.

De abril até o fim da semana passada, antes do anúncio da provável oferta, a ação acumulava uma alta de 64%. Na sexta-feira, o papel fechou a R$ 47,22. No high, em meados de setembro, negociou a R$ 52,35.

“A Mahle não precisa de capital, tem geração de caixa e balanço para fazer qualquer movimento estratégico – se o controlador deixar,” escreveu o analista Victor Mizusaki, do Bradesco BBI.

A empresa tem uma relação dívida líquida/EBITDA próxima de zero, e só este ano já distribuiu R$ 561 milhões em dividendos. “Não faria sentido a empresa distribuir 100% do lucro, como vem fazendo, para depois chamar um aumento de capital,” resume um gestor.

Para o analista do Bradesco, a eventual oferta secundária é um sinal de que o controlador está reduzindo sua exposição ao negócio de combustão, que tende a sofrer com o crescimento dos veículos elétricos.

A Mahle Metal Leve é controlada pela Mahle Indústria e Comércio (60%) e Mahle GmbH (10%). O free float do papel é de 30%.

O grupo alemão possui ainda a Mahle Behr, que fornece soluções de gerenciamento térmico de motor e ar-condicionado automotivos e também tem operação no Brasil. A Behr é uma subsidiária integral da Mahle GmbH – ou seja, a parte do grupo mais exposta a veículos elétricos não está dentro da empresa negociada na B3.

Em 2014, a Mahle havia contratado a Deloitte para analisar sinergias e colocar a Behr Brasil para dentro da Mahle Metal Leve. Porém, desistiu dessa operação no começo de 2015.

Para o Bradesco, o conflito de interesse só vai aumentar, dado que o mercado está preso no dying business – diferentemente do que acontece, por exemplo, com a Tupy, que produz peças tanto para veículos a combustão quanto para os elétricos.

Um investidor que está short em Metal Leve diz que “é um papel caro, num setor difícil e que tem exposição à Argentina no câmbio ‘errado’.”

Segundo ele, a ação vem de uma alta forte porque a empresa está passando por um momento de topo de ciclo: a venda de veículos novos leves/pesados está fraca, e o mercado de peças para reposição acaba ficando mais aquecido.

Além disso, houve queda no preço de matéria-prima e fretes mais altos para os concorrentes internacionais, o que ajudou as margens da Metal Leve.

No entanto, diz o investidor, o cenário deve ficar mais complicado, já que a receita deve declinar com o menor uso de veículos a combustão.

“Os produtos ligados à eletrificação são desenvolvidos somente na controladora. Com a Metal Leve distribuindo quase a totalidade do lucro em dividendos, sobra pouco espaço para investimentos e o surgimento de linhas para substituição das receitas perdidas,” disse o investidor short.

A Metal Leve está negociando com um prêmio alto em relação aos pares — na sexta-feira, seu P/L para 2024 estava próximo a 12x quando se leva em conta o ajuste pela potencial desvalorização da moeda argentina; no consenso Bloomberg, sem o ajuste, o múltiplo estava em 9,4x.

Depois da queda de hoje, a empresa vale R$ 5,22 bilhões na Bolsa. As ações têm pouca liquidez; o maior acionista no float é a Trigono Capital, com 6,3%.

A empresa também deve ser bem afetada por uma  eventual desvalorização do câmbio oficial na Argentina depois da eleição. Cerca de 20% das receitas da Metal Leve vêm do país vizinho.

“O controlador sabe que o preço de tela desse negócio não é esse. Subiu demais,” disse um outro gestor.