A reprodução assistida traz alegria e sentido à vida de muitos casais — e é a mais nova tese de investimento do fundo de private equity da XP.
O fundo comandado por Chu Kong acaba de investir R$ 200 milhões para comprar cinco clínicas de reprodução assistida — criando uma plataforma de expansão e consolidação num setor extremamente fragmentado e ainda pouco desenvolvido no País.
O fundo comprou participações majoritárias nas clínicas Fertility, em São Paulo; Vida e Primórdia, no Rio de Janeiro; Verhum, no Distrito Federal; e Geare, em Recife.
As cinco clínicas já somam 10% do mercado de reprodução assistida no Brasil, realizando 5 mil ciclos de tratamentos por ano de um total de cerca de 50 mil.
Cada ciclo custa em torno de R$ 20 mil e, dependendo de alguns fatores como idade, o paciente pode precisar de mais de um ciclo para conseguir engravidar.
Chu disse que decidiu investir no setor porque além de fragmentado ele tem drivers relevantes de crescimento.
“As tendências sociais e demográficas favorecem muito o setor,” o gestor disse ao Brazil Journal. “A representatividade da mulher está cada vez maior no mercado de trabalho, o que faz com ela tenha uma gravidez tardia e precise mais da reprodução assistida.”
Ao mesmo tempo, “existem apenas 200 clínicas no Brasil e não tem nenhum grande consolidador ainda. O que tem são alguns players internacionais entrando timidamente por aqui.”
A espanhola Eugin, por exemplo, é dona da clínica Huntington, que tem seis unidades em cidades como São Paulo e Belo Horizonte. Já a IVIRMA — a maior rede do mundo e que foi vendida por € 3 bi para o KKR recentemente — abriu sua primeira clínica em Salvador no ano passado.
O plano da XP é fazer outras aquisições nesse mercado e expandir as marcas já adquiridas, que hoje somam 8 clínicas. Para este ano, a expectativa é crescer em 50% o total de ciclos realizados, para 7,5 mil.
Maria Cecília Erthal, a fundadora da clínica Vida, disse que o mercado de reprodução assistida vem crescendo a um ritmo de 10% a 15% por ano. “Mas isso no contexto atual, em que esse mercado tem pouca divulgação e as pessoas não conhecem muito o nosso trabalho.”
Uma das ideias da XP é aumentar os investimentos em marketing, justamente para educar os brasileiros sobre esse tipo de tratamento. Outro plano: tornar os tratamentos mais acessíveis, dado que o preço é uma das grandes barreiras ao crescimento.
“Além de criar linhas de financiamento para os tratamentos, a escala já deve baratear os ciclos,” disse Isaac Moise Yadid, o fundador da Primordia. “Temos vários itens e medicamentos que usamos dentro da clínica que conseguimos baratear comprando em escala. E barateando o insumo, conseguimos baratear o tratamento.”
Há três tipos de tratamento oferecidos nas clínicas de reprodução assistida.
O primeiro, e mais simples, é tentar fazer o planejamento do coito. Em outras palavras: ver se a mulher está tendo relações sexuais seguindo o calendário reprodutivo.
O segundo é a inseminação artificial, quando o espermatozóide é inserido diretamente no útero.
Já o terceiro, e mais complexo, é a fertilização in vitro, quando os óvulos são retirados do corpo, colocados num meio de cultivo rico em nutrientes e fecundados em laboratório com o sêmen. Depois da formação dos embriões, um deles é selecionado e colocado no útero.
As clínicas também fazem o congelamento dos óvulos — uma opção cada vez mais demandada num mundo em que as pessoas querem ter filhos mais velhos.
“Isso é outro driver de crescimento importante do setor. Já há um crescimento contratado desses óvulos que foram congelados e que ainda vão passar por ciclos de fertilização,” disse Chu.
O investimento da XP é majoritariamente primário, com uma pequena parcela de cashout para os fundadores das clínicas. Todos os fundadores vão continuar como sócios da holding, que será tocada por executivos de mercado que a XP ainda está selecionando.
O investimento foi feito pelo XP Private Equity II, um fundo de R$ 1,7 bilhão que a XP terminou de captar há pouco mais de um mês.