Em março do ano passado, o Botafogo vendeu sua Sociedade Anônima de Futebol (SAF) para o empresário americano John Textor por R$ 400 milhões.

Alguns meses depois, foi a vez do Vasco, que vendeu sua SAF para a 777 Partners, uma gestora americana, que injetou R$ 700 mi no clube.

AD0BFC75 EA3E 4EF8 901A 901ACB33E947Por trás das duas transações estava uma pequena boutique de M&As criada por dois brasileiros que se conheceram em Yale.

A Matix tem apenas quatro anos de vida, mas conseguiu o mandato das duas maiores operações do setor, consolidando-se como uma das principais firmas num nicho do mercado de capitais que está começando a florescer no Brasil.

A aprovação da Lei das SAFs, em agosto de 2021, abriu espaço para os clubes buscarem outras fontes de funding para além da dívida bancária.

Basicamente, a lei — que foi inspirada nas SADs de Portugal — permite que os clubes se convertam em empresas privadas, podendo captar recursos via equity ou com emissão de títulos de dívida como debêntures. No limite, a lei também abre espaço para que os clubes façam um IPO.

De lá para cá, o futebol brasileiro — que sempre foi pouco profissionalizado e gerido por associações com governança duvidosa — começou a atrair interesse de investidores, e 30 clubes já criaram suas SAFs.

Destas, no entanto, apenas quatro foram vendidas: as do Vasco, Botafogo, Bahia e Cruzeiro, que foi comprada pelo ex-jogador Ronaldo.

“Tem muita gente testando a água e querendo saber como as coisas estão,” Thairo Arruda, um dos sócios da Matix, disse ao Brazil Journal. “A maioria dos clubes está considerando seriamente a transição para a SAF, e muitos já estão buscando investidores.”

Segundo ele, a Matix já está com outros dois mandatos de investidores interessados em clubes brasileiros. A boutique também já foi procurada por alguns clubes, mas, para evitar conflitos, decidiu trabalhar apenas assessorando os compradores. 

“Além disso, indo pro sellside passaríamos a concorrer com grandes players como a XP, que tem feito esse assessoramento dos clubes. Também é muito melhor trabalhar para o investidor, já que no final ele é que tem mais poder na negociação,” disse Danilo Caixeiro, o outro fundador. 

6DA90D45 D5E5 4ABB 93CF 20C23BB0C404A Matix começou de forma despretensiosa. Thairo e Danilo se conheceram enquanto estudavam em Yale, onde fundaram a ‘Yale Soccer Conference’, uma conferência anual voltada para tratar o lado de negócios do futebol.

Com os relacionamentos que criaram na conferência, a dupla decidiu fazer sua primeira aquisição: o clube Académica de Coimbra, em Portugal. Quando, no entanto, a dupla achou um investidor disposto a assinar o cheque, veio a pandemia e o mercado fechou.

“O que ferrou a transação é que Portugal baixou uma lei que não se podia fazer aglomerações com mais de três pessoas,” o que inviabilizou a assembleia presencial para aprovar a venda. (O estatuto do clube não permitia a assembleia online). Meses depois, o investidor desistiu do negócio.

A transação do Botafogo também teve um começo inusitado. Depois de ler na imprensa portuguesa que John Textor estava interessado em comprar o Benfica, Thairo e Danilo contactaram o empresário pelo LinkedIn. 

“Como não tínhamos nenhum track record, oferecemos trabalhar para o John sem contrato. Falamos que, se um dia ele achasse que devia nos pagar, tudo bem,” diz Thairo. Foram nove meses sem contrato, sem ganhar nada, até fechar a compra.

Hoje, os dois administram a SAF do Botafogo, organizando a casa antes de John contratar uma liderança profissional. 

Segundo a dupla, o Botafogo estava um caos. “Não tinha pessoas, processos, sistemas, nada,” disse Thairo. “2022 foi o ano da sobrevivência, de trazer capital humano e resolver os problemas. Agora vamos começar a olhar projetos estratégicos.”

O capital, no entanto, já está fazendo a diferença. No ano passado, o Botafogo foi o clube que mais investiu na compra de atletas – além de conseguir um retorno de mais de 2.000% na venda de um atleta.

Em agosto passado, o Botafogo comprou 60% dos direitos do atacante Jeffinho por R$ 1,5 milhão – uma participação pela qual o Olympique Lyonnais pagou R$ 33 milhões.  Vive la France.