Para a maioria do mercado, o choque da covid-19 foi algo sem precedentes, mas para o Softbank, teve um pouco de déjà vu.
Em 2003, a SARS — uma síndrome respiratória causada por outra cepa do coronavírus — impôs um lockdown extenso e duradouro em várias partes da China, colocando em risco o futuro de uma startup que acabara de nascer e era investida do Softbank: o Alibaba.
“A pandemia fez com que um grupo de funcionários se isolassem no apartamento de Jack Ma para finalizar o desenvolvimento do Taobao, que acabou se tornando o principal marketplace da companhia e ajudou a impulsionar o valor de mercado do Alibaba para mais de US$ 500 bilhões,” o Softbank conta num relatório enviado ontem à noite para suas startups e investidores na América Latina.
“O lançamento do Taobao, num momento em que as pessoas estavam confinadas em suas casas, marcou um ponto de virada para o ecommerce na China.”
Agora, o Softbank acredita que o isolamento social vai acelerar brutalmente a migração para o ecommerce na América Latina — repetindo por aqui o “efeito Alibaba”
Liderado por Marcelo Claure, o Softbank Latin America Fund já investiu em 18 startups da região desde que começou a operar, desembolsando 30% dos US$ 5 bilhões alocados ao fundo.
No relatório, o Softbank dá a entender que algumas de suas investidas estão vendendo como se fosse Black Friday o mês inteiro.
A VTEX, uma plataforma de serviços para lojas virtuais, cresceu 170% em abril. O MadeiraMadeira, ecommerce de itens para casa, está numa tendência de crescimento de 100% este ano; enquanto a Olist, que ajuda pequenos varejistas a vender em marketplaces, cresceu 90%.
A Rappi, que antes da crise enfrentava um cenário adverso, viu seu GMV saltar 138% em abril; enquanto a Loggi está crescendo 105% ano contra ano.
Nem todas as empresas investidas pelo fundo têm exposição a esse “efeito Alibaba,” mas mesmos essas “têm se adaptado rapidamente dado seu mindset digital-first”.
“Essas companhias têm administrado de forma responsável sua queima de caixa e tomado medidas adicionais para enfrentar a crise,” diz o relatório, citando os casos do Banco Inter, da Creditas, e da Konfio, uma fintech mexicana.
No texto, o Softbank — que recentemente entrou na Petlove e na Alpha Credit (no México) — sugere que ainda deve fazer investimentos mesmo em meio à crise.
“Apesar de focarmos primeiro [em investir] nos nossos parceiros existentes, estamos constantemente procurando novas companhias para trazer ao nosso ecossistema, se os valuations forem suficientemente adequados para o risco atual.”