A MadeiraMadeira — que com um nome redundante, logística de ponta a ponta e uma tecnologia inspirada em benchmarks globais se tornou a maior plataforma online de itens para a casa do Brasil — vai receber US$ 110 milhões de um grupo de investidores liderado pelo Softbank.
 
Esta é a maior rodada de capital da MadeiraMadeira desde sua fundação em 2009, e provavelmente a última antes do IPO da empresa curitibana.
 
Desde que começou a operar, a MadeiraMadeira aumentou seu faturamento em 10 vezes com um modelo de negócios que trabalha com estoque zero e integra sua tecnologia com os sistemas de seus fornecedores — um modelo conhecido no mundo do supply chain como “drop shipping” (ou “estoque na fonte”). 
 
Os fundadores — os irmãos Daniel e Marcelo Scandian, e Robson Privado — criaram um modelo de negócios à semelhança da Wayfair, o ecommerce americano de itens para a casa que já vale US$ 12 bilhões na Bolsa de Nova York; e da indiana Pepperfry (um marketplace com serviços de logística).  A MadeiraMadeira também se inspirou na estratégia de procurement da IKEA, que ajuda seus fornecedores a aumentar sua eficiência e a desenvolver produtos de private label.
 
Mais de 3 milhões de brasileiros já compraram algum produto na MadeiraMadeira, que vende para todos os estados brasileiros.  A companhia — que deve faturar R$ 1 bilhão este ano, contra R$ 515 milhões em 2018 — atingiu EBITDA positivo em 2016 e breakeven no ano passado.
 
Até agora, a companhia cresceu com muito pouco capital graças a seu modelo de negócios, que garante um fluxo de caixa positivo por não carregar estoques e pagar os fornecedores entre 60 e 90 dias.  Nas três rodadas anteriores somadas, a MadeiraMadeira levantou apenas US$ 38,8 milhões.
 
O sistema da MadeiraMadeira administra estoques e faz o ‘picking’ em 458 indústrias que fornecem para a plataforma, um número que deve crescer para 5 mil nos próximos cinco anos.  Além disso, a empresa opera como marketplace para redes de home improvement como Telhanorte e Balaroti.
 
Mas entregar produtos com mais de 20 quilos pode ser um desafio.  Hoje, quase todas as empresas de logística brasileiras estão focadas em pacotes ou cargas leves, o que gera uma dificuldade para o modelo de negócios da MadeiraMadeira. 
 
Para resolver o problema, a empresa criou sua plataforma própria, a Bulky Log, focada na entrega de grandes volumes. Parte dos recursos da rodada serão investidos na Bulky, que foi criada como empresa independente. O desafio inicial: reduzir o prazo de entrega de 15 para cinco dias.
 
Com 600 funcionários, um terço dos quais em tecnologia e desenvolvimento de produtos, a MadeiraMadeira tem conseguido atrair talentos de peso, incluindo Dan Davis, o ex-CTO da Build.com; Santiago Antoranz, o ex-chefe da IKEA na América Latina; e Adeildo Nascimento, que foi diretor de recursos humanos da GVT.
 
O CEO Daniel Scandian disse que, além da logística, a companhia vai investir em mais tecnologia para retirar toda a fricção do processo de venda.  A experiência do usuário tem que ser impecável.  “O produto para casa não é ‘searched’, ele é ‘browsed’,” diz Scandian.  “Você não sabe qual o modelo ou a cor que vai comprar.  Você faz a descoberta antes de fazer a opção da compra.” 
 
Scandian disse que também vai trabalhar na construção da marca. Ao contrário do marketing de performance que trouxe a companhia até aqui, “será um investimento de longo prazo, que não precisa de retorno no mês que vem.”
 
Ele disse que um IPO deve ocorrer num horizonte de quatro a cinco anos.
 
Além do Softbank, a rodada teve recursos do Light Street Capital, um hedge fund americano que investiu na Wayfair antes de seu IPO, e da Flybridge Capital, que participou de rodadas anteriores.  O fundador e CEO da Wayfair, Niraj Shah, e Christian Friedland, fundador da Build.com, também são investidores da companhia, assim como Monashees e Kaszek Ventures.
 
O Lazard assessorou a MadeiraMadeira.