A Lava Jato mostrou de maneira clara que tanto o modelo político quanto o econômico faliram no Brasil. A imprensa tem dado especial atenção ao desmoronamento da Política, deixando de lado a discussão sobre o fim da lógica econômica que predominou no País nas últimas décadas.
Mas não podemos nos iludir: a reinvenção do Estado brasileiro passa necessariamente pela reconstrução simultânea de ambos os modelos — e por uma mudança geracional na política.
Em 2018, temos que dar um passo decisivo para acabar com a relação promíscua da política com a economia, um enredo antirrepublicano que se opera nas mais de 150 empresas e bancos estatais. A maior lição da Lava Jato é a falência desta forma de governar.
Que os candidatos de 2018 — ao Congresso e ao Planalto — tenham a competência e a coragem de retirar do Estado o papel de investidor e transformá-lo num bom regulador e fiscal, além de cuidar da escola, da polícia, do hospital.
Enquanto não fizermos esta transição, novas Lava Jatos estarão a caminho.
É triste (e quase inacreditável) que, na alvorada de mais um ano, as pesquisas de opinião ainda mostrem a maioria dos brasileiros a favor das estatais e contra a privatização. Depois de todos os escândalos da Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, BNDES e outros, a ficha já deveria ter caído.
Que o Ano Novo nos traga lideranças capazes de traduzir esta verdade para o brasileiro mais humilde — o mais sabotado, o mais roubado, o mais prejudicado pelo status quo.
Mas nesta hora em que procuramos o novo, em que buscamos a ruptura com as práticas do passado, é igualmente importante que o Brasil não assine cheques em branco a quem quer que seja. Cometemos esse erro com Collor e Dilma, e pagamos caro demais.
Também seria lamentável desperdiçar o conhecimento técnico e de costura política que existe nos partidos tradicionais. O Brasil precisa eleger o Centro em 2018, e este Centro pode estar sim no Partido Novo, mas também nos partidos históricos.
Se 2017 ensinou alguma coisa a 2018 é que há um número de políticos jovens antenados com a necessidade de mudança no País, deputados e ministros que trabalham a favor da agenda de reformas, seja no Executivo ou no Legislativo, e que conseguiram muitos avanços em 2017. Infelizmente, as lideranças partidárias raramente dão vez à jovem guarda, e este lugar precisa ser conquistado.
Apesar da ladroagem épica e do ceticismo que ela gerou, não podemos cair no conto de que todos os políticos são corruptos e mal intencionados. Não é verdade. O Brasil precisa de uma mudança geracional na política — e não de demonizar todos os políticos. Dois casos recentes de mudança de geração e de mentalidade foram a eleição de Barack Obama e de Emmanuel Macron — e ambos sempre tiveram vida partidária.
Está na hora dos políticos com ideias arejadas — não importa onde eles se encontrem. Chega de elegermos políticos que ainda falam sobre a ditadura dos anos 60 e 70, que estão alheios à revolução digital por que passa o mundo, e que ainda insistem em discursos populistas e anti-emprego como “O Petroleo é Nosso.” Chega de gente que quer discutir Furnas — em vez da Tesla.
A novidade de 2018 deveria ser o potencial de uma nova geração de políticos — dentro dos grandes partidos — no processo eleitoral. A eleição de ‘outsiders’ — sejam empresários ou profissionais liberais como candidatos a cargos no Executivo e no Legislativo — pode complementar, mas não substitui a política tradicional. A política é para os políticos, e o fato da Lava Jato ter revelado o lamaçal não significa que o País possa prescindir dos políticos.
Precisamos afastar os velhos políticos, e, como dizia Ulysses Guimarães, principalmente os políticos velhacos.
O Brasil não pode se dar ao luxo de novas aventuras intervencionistas e populistas, como propõem a esquerda de Lula e a direita de Bolsonaro. Precisamos de mais Brasil e menos Brasilia, mais mercado e menos conversa fiada.
Adriano Pires é fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), economista pela UFRJ e doutor em economia industrial pela Universidade Paris XIII. Foi superintendente da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Na foto acima, o Plano Piloto de Lúcio Costa.