A Tupy acaba de anunciar a compra da MWM do Brasil, um M&A transformacional que deve mudar a cara da maior fabricante de blocos e cabeçotes de motores do mundo.
A aquisição verticaliza a operação da Tupy – que já era uma fornecedora da MWM – e a posiciona em dois novos setores: os geradores elétricos a diesel e a reposição de peças e componentes de motores, um negócio contracíclico.
A Tupy está pagando R$ 865 milhões pela MWM, que faturou R$ 2,6 bilhões no ano passado. A transação implica um múltiplo de 4x EV/EBITDA, abaixo de um múltiplo médio de 6x para empresas industriais brasileiras.
A ação da Tupy sobe quase 6% na manhã de hoje com a notícia. A empresa deve usar sua liquidez própria de R$ 1,3 bi em caixa e linhas bancárias para financiar a aquisição.
A MWM monta motores a diesel para caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. Ela recebe do cliente o desenho e as especificações do motor, recebe as partes dos fornecedores e faz todo o processo de usinagem, montagem e certificação técnica do motor.
Com a aquisição, a Tupy – cujos blocos e cabeçotes representam apenas 5% ou 7% do preço total do motor – vai passar a capturar quase todo o economics da fabricação.
“Com a MWM, vamos poder entregar às montadoras o produto com um nível maior de montagem, adicionando muito mais valor,” Fernando Rizzo, o CEO da Tupy, disse ao Brazil Journal. “Vamos oferecer diferentes níveis de serviços: em uma fração vamos capturar todo o processo, mas em outra parte vamos apenas usinar os blocos e fazer uma pré-montagem. Mas vamos estar capacitados a fazer tudo, e a terceirização é uma tendência cada vez maior entre as montadoras.”
A transação também coloca a Tupy no setor de energia. A MWM fabrica geradores de eletricidade a diesel e faz a conversão de motores para gás natural, biodiesel, biogás e biometano – cada vez mais usados na descarbonização do agronegócio, seja na produção de eletricidade em propriedades rurais seja para alimentar caminhões, ônibus e tratores.
Com 600 pontos de venda próprios e mais de 300 oficinas credenciadas no Brasil, a MWM também atua no setor de reposição de peças e componentes de motores diesel.
A aquisição da MWM do Brasil vem cinco meses depois do CADE aprovar – com restrições – a compra da Teksid, anunciada pela Tupy antes da pandemia, em 2019, mas cujo closing aconteceu apenas em 2021. Aquela aquisição representou uma integração horizontal e consolidou a Tupy na liderança da fabricação de blocos e cabeçotes de ferro para motor.
A Tupy tem hoje duas concorrentes: duas empresas alemãs e a Teksid mexicana, que ficou fora do negócio. Já a MWM tem um grande concorrente: a Cummins, que por sua vez é cliente da Tupy.
Ao contrário do que muitos investidores acham, a Tupy está pouco exposta aos carros de passeio – cuja indústria está sendo disruptada pelo carro elétrico.
“Depois da Teksid, cerca de 80% do negócio da Tupy tem a ver com caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e outros equipamentos pesados – que estão muito longe da ameaça existencial dos electric vehicles,” disse Werner Roger, da Trígono Capital, que tem 11% da Tupy.
Incorporando a aquisição da Teksid, a Tupy vai passar de um faturamento de R$ 7,1 bilhões em 2021 para R$ 11 bilhões [pro forma] este ano. Assumindo uma margem EBITDA de 13%, a empresa terá um EBITDA de R$ 1,43 bilhão e uma dívida líquida de R$ 1,3 bilhão.
A empresa hoje vale R$ 2,55 bilhões na Bolsa, um múltiplo de 2,75x EV/EBITDA.
BR Partners assessorou a Tupy, que trabalhou com os advogados do Pinheiro Neto.
BMA Advogados foi o assessor jurídico da MWM, que não usou assessores financeiros.