Desde que fez seu re-IPO em 2013, a Tupy ficou deitada num berço esplêndido de caixa, esperando a oportunidade de um M&A perfeito.

Na manhã de hoje, esse dia finalmente chegou.

A fundição de Joinville anunciou um acordo para comprar a Teksid, uma concorrente e subsidiária da Fiat Chrysler com fábricas no Brasil, México, Polônia e Portugal. (De brinde:  uma joint venture na China, que permitirá à Tupy entrar naquele mercado.)

A aquisição é transformacional: torna a Tupy imbatível no mercado de blocos de ferro e cabeçotes para motor no Brasil, diversifica suas receitas para novos produtos e clientes, e aumenta sua exposição à Europa.

A ação da Tupy subia 12% nas primeiras horas do pregão.

A Tupy está pagando € 210 milhões (R$ 950 milhões) pela Teksid, que fatura € 526 milhões, e já leva um offtake agreement para continuar fornecendo à Fiat.

Nas contas de um gestor, a Tupy pagou um múltiplo de 4,9 x EV/EBITDA na aquisição abaixo do múltiplo em que negocia na Bolsa, de 5,5 x. “Foi muito barato”, diz Werner Roger, da Trígono Capital, que está comprado na empresa.

Dos quatro ou cinco alvos que a Tupy sempre namorou, a Teksid era o maior, e o que oferecia mais sinergias. 

Apesar de uma tendência global à desverticalização entre as montadoras, a Fiat sempre resistiu a vender a Teksid. O namoro com a Tupy começou há mais de seis anos, mas trocas no comando da empresa em Turim atrasaram o casamento.

Inicialmente, a Fiat queria vender junto o negócio de alumínio da Teksid, mas a Tupy conseguiu comprar apenas a parte de ferro.

A operação ainda tem que ser aprovada pelo CADE e outras autoridades antitruste no mundo.

“No Brasil, os clientes da Tupy são grandes multinacionais e não o cliente final, então achamos que o CADE vai aprovar,” diz Werner. Além disso, muitas montadoras ainda produzem seus próprios blocos e cabeçotes.

Hoje, 80% do free float da Tupy está nas mãos de investidores internacionais.  Agora, “esse investidor vai ver uma empresa maior, mais diversificada e com uma exposição em China interessante, e o papel vai ganhar visibilidade, pode ganhar liquidez e aumentar seu peso nos índices,” diz o gestor.

Outro movimento que poderia destravar valor na empresa seria uma oferta da BNDESPar, que já disse que pretende vender os 28% que tem na empresa ano que vem. A oferta aumentaria o free float em pelo menos R$ 900 milhões, melhorando muito a liquidez, que hoje fica na casa de R$ 10 milhões/dia.

A alavancagem da Tupy deve subir de 1,3x para 2,2x sua dívida líquida/EBITDA. Para reduzir a alavancagem, a empresa disse hoje que vai diminuir o pagamento de dividendos para o mínimo exigido por lei até o closing da operação, previsto para o segundo semestre. 

Esta é a segunda aquisição da Tupy nesta década.  Em 2011, ela comprou duas fundições no México do Grupo Industrial Saltillo, numa transação de US$ 439 milhões.

“Vamos poder navegar muito melhor a ciclicidade das regiões que atuamos, ao mesmo tempo que teremos muitos ganhos de sinergias de custos fixos, matérias primas, porque as plantas estão próximas uma das outras,” o CEO da Tupy, Fernando de Rizzo, disse em call com analistas. 

Segundo ele, 43% da receita da Teksid vem da Europa, contra apenas 13% na Tupy. Juntas, as duas empresas chegam a 10% do mercado global de blocos de ferro e cabeçotes para motor, o que, segundo Rizzo, não deve gerar problemas com os órgãos antitruste. 

O Morgan Stanley foi o assessor financeiro exclusivo da Tupy, enquanto o JP Morgan deu crédito à Tupy. O Cleary Gottlieb Steen & Hamilton foi o assessor legal.