A ação da 3R Petroleum chegou a cair 15% na abertura de hoje depois da companhia anunciar um follow-on de até R$ 900 milhões que pegou o mercado de surpresa.

A oferta deve sair a R$ 24,45, um deságio de 20% em relação ao fechamento dos últimos 30 pregões e de 26% em relação ao fechamento de ontem, a R$ 32,87.

Depois que a empresa fez uma call com o mercado, o papel reduziu as perdas e opera em queda de 10%. 

O follow-on será de no máximo R$ 900 milhões e no mínimo R$ 600 milhões. No topo desta faixa, a diluição para os acionistas que não exercerem seu direito de preferência será de cerca de 15%; no low, a diluição cai para 10%.

Analistas chamaram o timing da oferta de “questionável” e “surpreendente”, dado que a percepção no mercado era de que a 3R teria condições de bancar a aquisição do Polo Potiguar com a geração de caixa própria e com dívida. 

A companhia vinha sinalizando que já havia assegurado instrumentos de crédito que poderiam ser acessados para financiar a transação. 

A companhia fechou a compra do Polo Potiguar da Petrobras em janeiro do ano passado por US$ 1,35 bilhão. A transação, no entanto, chegou a ficar em risco quando a Petrobras paralisou todos os seus processos de desinvestimento. 

Por um lado, o follow-on de hoje mostra que a companhia está confiante de que o closing da transação está próximo. Numa call com o mercado, o CFO Rodrigo Pizarro disse que a ideia da 3R é casar a captação de equity com o closing da transação, que ele espera que aconteça em cerca de 30 dias. 

“Tivemos avanços grandes nas últimas semanas nas duas condições precedentes que faltavam, que eram as licenças do Ibama e do Idema,” disse ele.

Por outro lado, a captação via equity mostra que o “ambiente de negócios pode estar mais desafiador do que o antecipado” num momento em que “os investidores já estão desapontados com a execução da companhia,” disse o JP Morgan. 

Segundo o CFO, a 3R decidiu por equity em vez de dívida porque o cenário do mercado de dívida piorou, e tomar uma dívida muito grande poderia colocar em risco o plano de capex da companhia.

“Se tomamos uma dívida entre US$ 100-150 milhões e o preço do Brent cair, a gente vai ter que reduzir o capex para não ficar próximo de estourar os covenants,” disse o CFO. “Com equity não. O petróleo pode cair 10%, 20%, 30% e mesmo assim podemos continuar com nosso plano de negócio.”

A 3R tem uma alavancagem confortável. Ela fechou o ano passado com uma dívida líquida de R$ 219 milhões, equivalente a apenas 0,3x o EBITDA ajustado da companhia. Nas contas do Bradesco BBI, a alavancagem da companhia poderia terminar este ano em 1,1x considerando o desembolso com Potiguar.

Nessa métrica, o CFO disse que a companhia estaria num patamar confortável tanto captando via equity quanto dívida.

O problema seria o chamado índice de cobertura, que compara a geração de caixa e capex com o serviço da dívida. Segundo o CFO, como o cenário para dívidas piorou, com o custo aumentando muito, a companhia passou a avaliar alternativas de dívida de curto prazo (de 1 a 2 anos) para não ficar travada com uma dívida cara no balanço.

“O problema é que as dívidas de curto prazo entram na conta do índice de cobertura,” disse ele. “Isso poderia jogar o índice de cobertura para um patamar que não gostaríamos e aí sim a consequência poderia ser reduzir capex.”

Segundo o CFO, o desconto de 20% no preço da oferta — que deixou alguns investidores desconfortáveis — é um estímulo para garantir que a subscrição aconteça e que haja uma adesão em massa dos atuais acionistas.

“Avaliamos nove precedentes recentes, e vimos descontos entre 5% e 30%. Vimos também que quando se dá um desconto maior isso se traduz num estímulo maior, e reduz o risco da oferta não acontecer.”

A compra do Polo Potiguar será transformacional para a 3R. O polo vai adicionar cerca de 17 mil barris/dia de produção, o equivalente a mais de 40% da produção da companhia.

Questionado por que não deixar para fazer a oferta mais adiante, dado que a companhia tem caixa para bancar as obrigações de curto prazo, o CFO disse que Potiguar vai demandar um capital de giro muito grande.

“Temos seis sondas direcionadas para o Polo, mas elas não vão sozinhas. Elas precisam de bombas, sobressalentes, materiais, cabos, inúmeros itens para sustentar a operação,” disse ele. “Esse capital de giro precisa entrar para o Polo funcionar. Poderíamos fazer mais pra frente? Sim, mas isso ia comprometer a curva de produção.”

Segundo ele, junto com o closing de Potiguar, a companhia também está negociando com a Petrobrás comprar o inventário que está estocado no ativo industrial de Guamaré, dentro do Polo — que inclui produtos refinados e óleo bruto.