A Ambipar anunciou uma ampla reestruturação em sua diretoria executiva, trazendo de volta o fundador Tércio Borlenghi Jr. como CEO e nomeando seu filho Guilherme como COO.
A volta de Tércio ao comando vem num momento em que Ambipar enfrenta o desafio de reenergizar seu ritmo de crescimento – depois de dois trimestres mais fracos – e, tão importante quanto, integrar operações e extrair sinergias depois de quase R$ 2,5 bilhões em aquisições nos últimos dois anos.
O papel fechou ontem a R$ 18,86 – perto da mínima histórica – com a companhia valendo R$ 2,1 bilhões na Bolsa.
“O olho do dono é que engorda o gado, e agora o dono voltou,” disse um gestor comprado no papel. “Ele sempre foi próximo do dia a dia, mas isso é uma sinalização importante.”
Tércio não é o único Borlenghi que terá que trabalhar mais duro. A escolha de Guilherme Patini Borlenghi como COO coloca o executivo – que fará 30 anos no mês que vem e trabalha há 13 na companhia — como o provável sucessor do pai no comando da empresa de gestão ambiental.
Antes desta promoção, Guilherme era o COO da Ambipar Emergency Response, o negócio de prevenção e gerenciamento de acidentes ambientais da companhia, listado na NYSE sob o tikker AMBI.
A Ambipar disse que Guilherme “liderou decisões estratégicas da companhia relativas à alocação de capital e M&A, consolidação e expansão da Response e a entrada e crescimento no mercado internacional.”
Como parte das mudanças, Rafael Espírito Santo – um executivo da HPX, o SPAC que se fundiu com a Response – se torna o CEO da Response no lugar de Yuri Keiserman. Um ex-sócio da Vinci que começou sua carreira no Pactual, Rafael foi CFO da PDG e liderou a área de operações do Burger King Brasil de 2016 a 2020, antes de se juntar à HPX.
Pedro Petersen, outro ex-HPX que já era o RI da Response, agora passa a ser também o CFO da empresa, substituindo Rafael.
As duas nomeações não foram exatamente uma surpresa. A escolha de Carlos Piani como chairman há exatos três meses já sinalizava que executivos oriundos da HPX teriam cada vez mais espaço na Ambipar como um todo.
Também como parte das mudanças, Lucio Gagliardi foi nomeado CEO da Ambipar Environment, cujo negócio consiste em dar destino a todo tipo de lixo industrial e é o de maior potencial dentro do grupo. Lucio já havia trabalhado na Ambipar por seis anos e estava empreendendo fora do mercado de resíduos antes de voltar à companhia.
A empresa também promoveu Ricardo Garcia a CFO e RI da Environment, substituindo o CFO do grupo, que atuava como CFO interino da Environment.
Em seu conjunto, os movimentos objetivam azeitar a organização interna e sinalizar o foco da companhia, o CFO Thiago da Costa Silva disse ao Brazil Journal.
“É para deixar claro tanto para o público interno quanto para o mercado sobre o que vamos buscar agora em 2023: captura de sinergias e crescimento orgânico,” disse Thiago.
A Ambipar tambem anunciou a criaçào de dois comitês de assessoramento não estatutários: um Comitê Operacional na Environment, “com foco em integração, gestão e captura de sinergias entre as companhias do grupo” e um Comitê Financeiro.
O foco deste comitê deve ser encontrar ideias para a empresa desalavancar mais rápido. O endividamento subiu muito depois de um ciclo de aquisições que fez a Ambipar multiplicar de tamanho algumas vezes. A queda da Selic já vai ajudar neste processo, e os recursos da fusão com a HPX também já fizeram alguma diferença, mas a Ambipar deve se tornar mais pró-ativa em alongar sua dívida, melhorar seus covenants e bolar engenharias que tragam novos recursos — se quiser estar preparada para outras aquisições oportunísticas.
Com as mudanças, três executivos sêniores estão deixando a companhia: Leon Tondowski, que foi o CEO do grupo nos últimos três anos; Cristina Andriotti, conselheira da Ambipar e CEO da Environment, que o mercado via como tendo um papel relevante na área comercial; e Yuri Keiserman, que inicialmente tocava a agenda de M&As e mais recentemente presidia a Response.