A Steinhoff International Holdings NV, grupo apontado como potencial comprador da Via Varejo, tem ‘a cara’ das Casas Bahia e acaba de receber um aumento de capital de US$ 2,74 bilhões para financiar sua estratégia de aquisições.

O grupo — de origem alemã mas hoje com sede na África do Sul — é controlado por Christoffel Wiese, um bilionário sulafricano com fortuna estimada pela Bloomberg em US$ 6,6 bilhões.  Wiese contribuiu US$1,8 bilhão no aumento de capital no fim de setembro, e é dono de 23% da companhia.  
 
Hoje com 74 anos, ele vendeu sua empresa (a Pepkor) para a Steinhoff há dois anos por US$ 5,7 bilhões; a Pepkor era a maior varejista da África do Sul, e foi a primeira rede de vestuário que a Steinhoff comprou.
 
Recentemente, Wiese disse à Bloomberg que a Steinhoff pode dobrar de valor em cinco anos. A empresa tem um valor de mercado de US$ 20 bilhões na Bolsa de Frankfurt.
 
“Eles são muito aquisitivos e costumam não ser muito sensíveis a preço,” diz um gestor brasileiro que pesquisou a Steinhoff por ter ações da Via Varejo em sua carteira.
 
Frequentemente chamada de ‘a Ikea da África’, a Steinhoff é dona de 6.000 lojas em 20 países, além de 21 fábricas produzindo camas, colchões, móveis e artigos para banheiro e cozinha.  
 
Em 1998, o chairman da empresa definiu a Steinhoff como “um fornecedor integrado de estilo de vida”, que manufatura, vende e distribui produtos para a casa.  “Nosso modelo”, escreveu o chairman, “é ser um produtor e distribuidor de móveis de baixo custo, em âmbito global, atendendo à classe média nas áreas georgráficas onde atuamos.” 

Em setembro, a Steinhoff e o Casino se aproximaram.  A Conforama, uma rede francesa de móveis controlado pela Steinhoff, criou uma empresa para fazer compras conjuntas com o Casino e aumentar o poder de barganha dos dois grupos.
 
A joint venture, que recebeu o nome de ‘Mano’, tentará otimizar as compras na França junto aos principais fornecedores internacionais de eletrodomésticos dos dois grupos.
 
Fundada por Bruno Steinhoff em 1964, no auge da Guerra Fria, a Steinhoff importava móveis baratos, produzidos na Alemanha Oriental, para vender na Alemanha capitalista que havia do outro lado da Cortina de Ferro. [Bruno dormia em seu carro e barganhava os preços com os comissários do Partido comunista, que controlavam as fábricas.  Em 1989, logo que o Muro caiu, ele comprou seus fornecedores e verticalizou o negócio, pagando uma pechincha.]
 
A empresa entrou no varejo de eletrodomésticos apenas em 2005, e de lá para cá tem crescido por meio de uma estratégia de aquisições agressiva. 
 
Nesta expansão internacional, a Steinhoff tem pago prêmios significativos em relação ao valor de mercado das companhias que adquire. O gráfico abaixo mostra o prêmio de 115% pago pela Steinhoff na compra da Mattress Firm Holding Corp. em agosto desse ano, uma transação de US$ 2,4 bilhões que marcou a entrada da empresa nos EUA.
 
Em julho, a empresa desafiou a nova realidade imposta pelo Brexit e comprou a rede inglesa Poundland por US$ 800 milhões, pagando um prêmio de 40% sobre a cotação de mercado.
 
Na lista de derrotas, a Steinhoff tentou mas não conseguiu comprar a inglesa Home Retail Group e a rede francesa de eletrônicos Darty. (No primeiro caso, perdeu para a J Sainsbury; no segundo, para a FNAC.)
 
Além de ter uma forte presença em móveis por conta da Bartira — a fábrica que herdou ao comprar as Casas Bahia —  a Via Varejo também tem foco na baixa renda e, talvez o mais importante, uma complementariedade com o mix geográfico da Steinhoff — que já é forte na Europa, África e Ásia, está entrando na América do Norte, mas não tem nada na América do Sul. 
 
Numa eventual compra da Via Varejo, a única grande questão para a Steinhoff parece ser aquela colocada pelo velho comercial das Casas Bahia:  
 
“Quer pagar quanto?”
 
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