A ideia não é nova, e existe como rumor há anos.
Mas agora, uma analista veterana argumenta que uma aquisição da Disney pela Apple poderia gerar muito valor para os acionistas de ambos os lados.
Laura Martin, a analista de mídia e entretenimento da Needham & Company com mais de 20 anos de indústria, defende que a fusão poderia gerar valor para a Disney com a incorporação de receitas que hoje são apropriadas por parceiros ou empresas que se beneficiam de seus produtos.
Laura define esta perda como value leakage, ou “vazamento de valor”.
Funciona assim: a Disney atrai milhões de espectadores para os filmes da Marvel e milhões de visitantes para seus parques temáticos, mas não fatura nem um dólar com a venda da pipoca nos cinemas nem com as passagens de avião para Orlando. Também não ganha nada com as outras atrações vizinhas a seus parques – mas favorece até seus concorrentes, que tiram proveito do fluxo de turistas.
A Apple, ao contrário, captura praticamente toda a receita gerada dentro de seu ecossistema.
Se tivesse um “vazamento” de valor similar ao da Apple, que Laura calcula em torno de 10%, a Disney teria um market cap próximo aos US$ 2,6 trilhões da companhia de Tim Cook – em vez dos US$ 180 bilhões de hoje.
Mas o que a Disney perde em valor ela ganha em aliados no mercado, diz Laura.
“O melhor do modelo da Disney é que ela coleciona amigos poderosos,” escreve Laura. “Os seus 100 anos de existência se devem em parte ao fato de que outras empresas e governantes não querem que a Disney fracasse, porque eles se beneficiam de uma Disney próspera.”
Ou seja, neste tradeoff, a Disney perde receita mas ganha em longevidade. E por isso, ela pode ser considerada too big to fail. Quem não gostaria de ter uma fatia de um negócio assim? pergunta Laura.
Hoje a Apple e a Disney são concorrentes nos serviços de streaming, mas já foram grandes parceiras no passado; Steve Jobs teria inclusive contribuído para a aquisição da Marvel ao prever o potencial da marca em conversas com Bob Iger.
Em conversa com o Brazil Journal (vídeo acima), Laura lembra que diversas companhias de tecnologia que foram líderes na década passada hoje estão praticamente fora do mercado, porque “a tecnologia nunca para de evoluir.”
A Apple, portanto, pode ser superada. “Mas a Disney tem 100 anos de história e a sua excelência em contar estórias pode manter sua vantagem competitiva por outros 100 anos,” diz Laura.
Segundo a analista, os incumbentes em tecnologia demoram a se adaptar, e isso reduz a chance de saírem vitoriosos ao longo das décadas. Por isso, ela argumenta, “a fortaleza competitiva da Apple provavelmente será mais transitória do que a da Disney.”
Para a Apple, assumir o controle da Disney teria um outro enorme upside: o portfólio de filmes da marca de entretenimento, entre elas as franquias Marvel e Star Wars.
Laura argumenta que Apple e Disney possuem negócios e redes complementares. As sinergias são várias, abrindo a possibilidade na redução de custos com produção de conteúdo e distribuição.
A analista, que mantém uma recomendação de compra para a Apple, diz que as ações da companhia poderiam subir de 15% a 25% com a transação, ou seja, seu valor de mercado subiria algo entre US$ 400 bilhões e US$ 650 bilhões.
Portanto, mesmo pagando pela Disney o dobro do valor atual de US$ 180 bilhões, a empresa de Tim Cook sairia ganhando – e muito.
Hoje a Apple negocia a 6,1x o se faturamento, enquanto a Disney negocia a 2,2x. Assim, a compra poderia ser feita por meio de emissão de ações e sem diluir os atuais acionistas da Apple.
Para a analista, o eventual negócio – cujo principal obstáculo parece ser a cultura da Apple de não realizar grandes aquisições – não teria grandes dificuldades de ser aprovado pelos reguladores. “Tradicionalmente, nunca vimos restrições quando uma empresa de distribuição adquire produtores de conteúdo. É uma transação vertical, sem grande sobreposição.”