Escalando a guerra de narrativas que começou com a nova campanha do Itaú, a XP disse que o banco está “desesperado” porque perde clientes a rodo para a plataforma da qual é o maior acionista.
“Mais de R$ 150 milhões saem todos os dias do Itaú e vem para a XP. Se você projetar esses dados ao longo do tempo, não seria difícil imaginar que em três anos o Personnalité pode se extinguir, pode acabar,” Gabriel Leal, o diretor comercial da XP e responsável pelo relacionamento com os agentes autônomos, disse numa entrevista coletiva agora há pouco.
Leal chamou a campanha do banco de “um ato desesperado” de uma empresa “que não consegue se reinventar.”
Em seguida, questionou “as metas e conflitos que o gerente deles têm ao oferecer um título de capitalização ou poupança como investimento.”
A XP também atacou as taxas de administração cobradas pelo Itaú, citando fundos DI com taxas de 1,75% e fundos de ações que só investem em Vale e Petrobras e cobram 3%.
Segundo Leal, a XP abre para seus clientes a remuneração que os agentes autônomos recebem na venda de cada produto, dando transparência ao processo. Quando uma repórter perguntou onde poderia ver a tabela, Leal disse que é preciso ser cliente da empresa para ter acesso.
A entrevista foi o ápice de um dia marcado pelo acirramento das acusações mútuas — para estupefação generalizada.
Pela manhã, o Itaú promoveu um post no Instagram que provocava: “Em 2020, o assessor da corretora da moda não soube o que fazer? Invista com um especialista do Personnalité.” (O post mostrava apenas a ilustração de um colete azul, o uniforme clássico dos funcionários da XP).
Minutos depois, a XP devolveu a granada ao campo adversário — sem o pino: “2020 e ainda tem gente criticando a roupa dos outros. Coletinho, moletom, shorts, camisa, chinelo, terno…#menteaberta é aceitar cada um como é.”
Adjetivos e xingamentos à parte, a projeção de ‘morte’ do Personnalité em três anos, feita pela XP, é exagerada.
Numa entrevista ao Brazil Journal há dois dias, Carlos Constantini, o diretor de wealth management do Itaú, disse que o market share do Itaú em investimentos no varejo tem se mantido estável nos últimos anos, a despeito do avanço da XP.
Citando dados da Anbima, ele disse que o share do Itaú está em 21,7%. “Em 2017 nosso share era 20,8%,” disse Constantini, acrescentando que a XP tem 13,5% desse mercado.
Durante a coletiva de hoje, um repórter perguntou: “A XP cresceu fazendo campanhas de marketing provocando os bancos. Por que a XP ficou tão mexida com isso, quando um banco aponta um ponto fraco das plataformas?”
Leal respondeu: “Concordo que as corretoras sempre usaram um tom provocativo. Mas o ponto aqui é a grande hipocrisia que existe nisso. Como pode um banco demorar 90 anos para entender que o cliente tem que ser colocado em primeiro lugar e vir atacar a gente sem resolver questões internas de total abuso e conflitos?”
Quase ao mesmo tempo em que Leal dava a entrevista, o próprio Guilherme Benchimol sutilmente mostrava ao Itaú a porta da rua.
“É confuso, porque mostra que alguém que comprou a ação da XP não aposta no seu negócio,” disse o CEO da XP. “Dessa forma, não faz sentido ser acionista.”
Leal bateu mais forte ainda: “Se o Itaú está tão desconfortável com nosso modelo de negócios, ele deveria repensar seu investimento.”
O dia terminou com muitos feridos, mas só um morto: o sujeito que achava que essa briga era uma jogada de marketing combinada.